EVANGELIZAÇÃO POR PROXIMIDADE - RUBEM AMORESE

Deus estava, em Cristo, evangelizando o mundo. 

Esta boa nova, certamente, não era desconhecida, insuspeita; já havia sido profetizada muitas vezes e de diversas maneiras. A encarnação aconteceu na história, resultado de muita preparação; na plenitude de tempos e movimentos de homens, anjos e do próprio Deus. 

Entretanto, Deus estava, agora, consumando seus propósitos, concebidos em tempos imemoriais. Oferecia-nos a sua reconciliação, a sua paz, por meio do estreitamento dos laços, da proximidade, de gestos de amor dadivoso. Sim, agora seu método seria o de se fazer um conosco, por meio de seu Filho, achado em figura humana. Emanuel. As distâncias insuportáveis a quem ama foram eliminadas e o único imponderável seria se lhe permitiríamos tal proximidade, se o aceitaríamos em nossos espaços íntimos, se o receberíamos em nossas casas. Talvez fosse esperar demais de gente que lhe dera tantas provas de soberba e independência. 

Seríamos capazes de abrir mão da nossa aparente autonomia para aceitar seu senhorio? Não seria esse um plano destinado ao fracasso? Não haveríamos de rejeitá-lo para preservar nosso maior tesouro, o nosso ego? 

Sim, talvez fosse um plano maluco. Entretanto, há que se considerar o amor com o qual nos amou. Um amor tal que o moveu a dar-se. E assim fez. Vimos o menino, conhecemos o homem e contemplamos a cruz. Nela estava a prova cabal desse amor quase incompreensível. Se considerarmos as perspectivas de reciprocidade, as chances eram pequenas. 

Deus estava, em Cristo, evangelizando o mundo. 

Contudo, assim foi e assim se fez. E o que os nossos olhos viram, e as nossas mãos apalparam, isso nos transtornou. Como que por milagre, trouxe-nos nova vida. Porque ouvimos palavras de vida, porque nele estava a vida, sua luz nos iluminou. E isso quisemos anunciar. 

Entretanto, se é assim o caminho da evangelização, e se aceitamos o encargo de sermos seus ajudadores, por que o fazemos tão à distância? Por que permitimos as separações físicas e emocionais que nos afastam do modelo? 

É bem verdade que as cartas, os livros, os sermões para as multidões e outros meios não foram invalidados. Serviram e servem ao propósito reconciliador. Porém, ficou provado que, se eram necessários, não foram suficientes. Foi preciso encarnar. A encarnação, essa sim, se mostraria necessária e suficiente.

_______

0 comentários:

Postar um comentário