Quando eu era criança e ouvia a história na Escola Dominical, não conseguia entender as voltas e os desvios da reconciliação de José com seus irmãos.
Em um momento José agia com rudeza, jogando seus irmãos na prisão; a seguir parecia estar sobrepujado pela tristeza, para sair da sala e debulhar-se em lágrimas como um bêbado. Ele foi ardiloso com os irmãos, escondendo o dinheiro em seus sacos de mantimentos, mantendo um deles como refém, acusando outro de roubar o seu copo de prata.
Durante meses, talvez anos, essas intrigas prolongaram-se até que, finalmente, José não aguentou mais. Convocou seus irmãos e dramaticamente os perdoou. Agora vejo esta história como uma descrição realista do ato nada natural do perdão.
Os irmãos que José lutou para perdoar foram exatamente os mesmos que o haviam maltratado, que tinham armado planos para matá-lo, que o haviam vendido como escravo. Por causa deles ele havia passado os melhores anos de sua juventude mofando em uma prisão egípcia.
Mesmo tendo triunfado na adversidade e mesmo desejando de todo o seu coração perdoar aqueles irmãos, não conseguia fazer isso. A ferida ainda doía muito.
Vejo o texto de Gênesis 42-45 como a maneira de José dizer: "Acho espantoso que eu lhes perdoe pelas atitudes covardes que vocês tiveram!".
Quando a graça finalmente irrompeu sobre José, o som de sua tristeza e amor fizeram eco através do palácio.
- Que gemidos são esses? O ministro do rei está doente?
- Não, a saúde de José vai bem... É apenas o som de um homem perdoando.
____________
do livro MARAVILHOSA GRAÇA, Ed. Vida.
0 comentários:
Postar um comentário