“Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.
Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” I João 1:6-7
Acabo de ler o texto do Rev. Prof. Dr. Héber de Campos, O Pluralismo do Pós-Modernismo, chego a conclusão do intenso desespero que muitos Homens Presbiterianos vêm sofrendo por conta dos rumos obscuros e inóspitos da religiosidade pós-moderna. Pude abrir meu campo de reflexão e de análise sobre a fé cristã a partir de alguns referenciais, que a leitura deste texto trouxe para mim. Por isso, hoje quero compartilhar com você alguns desafios que nós Homens Presbiterianos precisamos tomar no alvorecer da Comunhão visando a Evangelização do nosso País.
Precisamos entender que o “fazer” evangelização da Igreja sem unidade é escândalo, isto porque no Reino de Deus não existe espaço para o fazer individualista. A Evangelização está sempre evidenciando o aspecto da comunhão, porque não existe espaço para evangelização na igreja de forma individualista. A comunhão tem a ver com o Corpo de Cristo e com a Comunidade do Povo de Deus.
O Apóstolo João associa esta necessidade da vida de comunhão e da unidade visível do povo de Deus na obra evangelizadora. Portanto João está falando de uma unidade organizacional visível na história, através de ações de fraternidade prática, vivenciada no amor e propósitos ideais do Reino de Deus, ineqüivocadamente assumidos como prioritários e portanto dignos de nossa convergência.
É interessante que o Novo Testamento diz que o mundo não vê quase nada, “o homem carnal não entende as coisas de Deus”, porque o “príncipe deste mundo cegou o entendimento dos incrédulos”. Mas com relação a unidade da Igreja o mundo “veria”, isso porque seria uma unidade mais do que metafísica, mais do que espiritual, seria uma unidade analisável, mensurável, sociologicamente compreensível, socialmente perceptível. O mundo perdido, cego pelo diabo, é incapaz de perceber a profundidade espiritual do Reino, todavia deve ser capaz de perceber a unidade do povo de Jesus.
Eu penso que nos precisamos ter alguns desafios se queremos tornar a nossa vida como Homens Presbiterianos ou como igreja, como uma igreja que realmente caminha dentro da vontade para o qual Deus a criou. Se queremos caminhar como uma igreja que viva de acordo com a vontade de Deus, precisamos de ser desafiados constantemente em nossa vida cristã.
A evangelização é uma realidade complexa, que inclui exigências irrenunciáveis. A Evangelização no Novo Testamento é destacada como: serviço (diakonia), proclamação, diálogo, anúncio (kérygma), testemunho (martyria) e da comunhão (koinomia).
O mundo em que vivemos está mergulhando em um caos espiritual, que reflete sua obstinada intenção pela exclusão de Deus. Diante desse quadro, a Igreja deve sempre se posicionar levantando a bandeira do Evangelho de Jesus Cristo. Os desafios confrontam-nos para que tomemos decisões firmes em prol do Reino de Deus (I João 1: 6-7).
Consideremos alguns desafios para o Homem Presbiteriano no alvorecer da Comunhão para Evangelização
Os novos desafios, que colocam novas perguntas, impõem igualmente novas respostas. Encontrar respostas adequadas a nossa prática evangelizadora, não é uma tarefa propícia a seguranças. Vivemos um tempo mais de buscas do que sínteses, mais ingente à criatividade do que ao plágio e à repetição. De nada valem as nostalgias restauradoras de um passado sem retorno. É claro que, em se tratando da herança cristã, na busca de novas respostas, impõe-se salvaguardar a autenticidade primitiva, a experiência dos Reformadores. A coragem de renovação é a única garantia de futuro.
Das novas perguntas, postas por um mundo em profundas transformações, impõem-se, pelo menos, três grandes desafios para o Homem Presbiteriano. São desafios que se apresentam como tarefas, a serem realizadas de maneira processual, gosto muito desta palavra, talvez por causa do Direito. Apresenta-se a necessidade urgente de – re-projetar a missão evangelizadora da Igreja, de re-fontizar a identidade reformada da Igreja e de re-novar a Comunhão da Igreja.
1. Re-projetar a missão evangelizadora da Igreja
O primeiro desafio consiste em definir os contornos da identidade reformada da Igreja na obra evangelizadora. A identidade da Igreja (ser) e sua configuração histórica (instituição) derivam da missão (fazer).
Evangelizar não consiste simplesmente em incorporar pessoas a uma Igreja já pronta mas, antes de tudo, em encarnar o Evangelho na vida de pessoas contextualizando-as. Mas, não também de um evangelho supostamente fora da contingência da história e das culturas, o que não passaria da transmissão de uma determinada versão dele e levaria a uma Igreja monocultural. Neste caso, os interlocutores não passariam de meros destinatários, reduzidos a receptores passivos de um evangelho em uma determinada interpretação e vistos como objetos da evangelização. Ora, a Evangelização, trata-se, antes, de um processo cujo sujeito não é quem leva a fé, mas quem recebe a mensagem revelada, dado que neste processo, não é tanto o evangelho que se incultura, mas os sujeitos da cultura que incorporam, a seu modo, o Evangelho em sua vida, em suas relações.
Na tarefa de resposta ao desafio de re-projetar a missão evangelizadora da Igreja, impõe-se fazer do ser humano o caminhar da Igreja, poderíamos pensar em evangelismo pessoal, ou mesmo no evangelismo pelo testemunho, talvez não, mas pensar no evangelismo como um estilo próprio de viver, viver como Cristo viveu. Isto implica a superação da visão teocentrista e de seu conseqüente eclesiocentrismo ou de uma ação evangelizadora meramente ad intra[i], na esfera do espiritual, e situar a missão evangelizadora no coração do homem numa visão Cristocentrica.
Desafios tais como pobreza crescente, ética social-política-econômica, direitos humanos, democracia, violência, igualdade racial, emancipação da mulher, ecoteologia, dizem respeito também ao Evangelho.
2. Re-fontizar a Identidade da Igreja
A preocupação pela “identidade” da Igreja, assim como pela identidade das culturas, dos povos, dos indivíduos etc., está na ordem do dia e tem sua razão de ser. Isso se deve, por um lado, às profundas transformações atuais e, por outro, à cultura de dominação reinante, que operou uma destruição dos valores tradicionais.
Na Igreja, a atual crise de identidade, em grande medida, deve-se às novas perguntas oriundas de um mundo em profundas transformações, que ao exigirem novas respostas, impõem uma nova compreensão de si mesma e uma nova configuração da Igreja.
A crise de identidade, em um momento e contexto particulares, instintivamente leva a re-visitar o passado, em busca da experiência dos nossos pais (Reformadores). Caminha-se ao encontro do referencial histórico, que fundamentou o caminhar até então, para resgatá-lo no novo contexto. Mas, há duas maneiras muito diferentes de re-visitar o passado, que desembocam em modos diversos de configuração da identidade: uma, é re-visitá-lo a partir da instintiva atitude de medo e de autodefesa, que leva a reafirmar a identidade “de sempre”, ou seja, de ontem; outra, é re-visitá-lo a partir da urgência do presente, propondo-se a uma re-fundação da identidade, na fidelidade à experiência dos Reformadores, em perspectiva de futuro, creio que este é o pensamento essencial da fé reformada, “ecclésia reformata semper reformanda”[ii].
Ao buscar a base da nossa identidade no passado, fazendo dele um refúgio, é caminho para o princípio da fé reformada na atualidade. A postura reformada está apoiada em uma visão retrospectiva da realidade, na medida em que se pensa que, não foram os tempos que mudaram, mas a identidade atual que fracassou, por ter se desviado da forma primária. A solução, então, é resgatar a identidade de ontem e trazê-la para o hoje .
No contexto da atual crise da modernidade, a postura reformada está presente também na Igreja. A Igreja está voltada para a esfera ad extra,[iii] em estreita ação do ecumenismo denominacional de linha evangélica[iv], e com os movimentos populares, que perdeu a identidade reformada. Também perdeu seu poder, na medida em que foi usada ou deixou-se usar por outros interesses, por uma politização da fé, que esvaziou a escatologia de sua dimensão transcendente. A salvação foi reduzida à libertação de contingências temporais de ministérios extraordinários. A fé, em seu discurso normatizado que é a teologia, em sua forma de “teologia que liberta”, representa a ingerência indevida de outras ciências na teologia, especialmente da sociologia. A formação, nos seminários e escolas de formação teológica, gera um tipo de pastor crítico em relação à comunhão da igreja, incapazes de veicular uma identidade forte da mesma, diante das vicissitudes da sociedade e das seitas.
A re-fontização da identidade, pela busca da experiência dos Reformadores, nos remete portanto ao próprio caminhar da Igreja na história a partir da Reforma Séc XVI, sob o dinamismo do Espírito Santo. O Espírito Santo não é enviado a uma Igreja já constituída antes de sua missão . A missão do Espírito Santo é constitutiva da Igreja. Ela existe porque o Espírito Santo lhe foi enviado e ela se manifesta a partir deste dom. A Igreja não é nem anterior nem exterior à missão do Espírito. Primeiro há uma missão do Espírito a toda a criação, para que esta criação exista; depois, dentro desta missão geral, surge e existe a Igreja (Pentecoste).
3. Re-novar a Comunhão da Igreja
A Igreja, ainda que seja verdade que não é uma mera democracia, é comunhão, também é verdade que a comunhão pressupõe a koinonia. Passados, entretanto, mais de dois mil anos, por razões diversas, a Igreja parece estar longe de constituir-se em uma koinonia. Na verdade, qualquer forma de autoritarismo é essencialmente contrária à mensagem evangélica.
Evidentemente, estamos falando aqui, não da “origem” do poder na Igreja (a Igreja enquanto manifestação do Poder de Deus), mas de sua gestão, que deve seguir os princípios evangélicos, quais sejam, a ausência de toda sorte de autoritarismo e desrespeito à dignidade das pessoas, a serviço de quem devem estar sempre as estruturas. Certas formas de poder na Igreja, às vezes ditas emanadas do espírito do Evangelho, não passam de heranças históricas, fruto da imitação de poderes temporais .
O acolhimento deve se dar primeiro em nossas afeições e corações, quando então, não se fará acepção de pessoas. Paulo disse que tanto Judeus como gentios deveriam ter o mesmo tratamento no seio da igreja primitiva. Outro aspecto da ética cristã no acolhimento é não fazer distinção entre classes sociais.
A comunhão dos santos faz com que cada graça que Deus concede a um determinado membro da Igreja seja patrimônio de todos os fiéis. Se, numa sociedade, alguns de seus membros se tornam religiosos, ou se santificam, isso redundará em bem para todos os membros da sociedade, e deverá alegrar portanto a todos.
A vida cristã é uma vida de relacionamentos. A comunhão íntima com Deus, pela oração e prática da Sua Palavra, nos leva ao relacionamento fraterno com nossos irmãos de fé. Esse relacionamento cresce na medida em que também cresce nossa fé
CONCLUSÃO
Não importa a sua teologia correta, os seus dons extraordinários ou sua visão ampla e estratégica; se você é individualista e não tem comunhão com a Igreja, você está fora da vontade de Deus. Sem comunhão você é um tijolo fora da construção, um membro fora do corpo, um soldado perdido no campo de batalha, ou seja, uma incoerência, uma contradição, uma vida sem propósito. Você precisa de se relacionar na Igreja por inúmeras razões
BASE BIBLIOGRÁFICA
CAMPOS, Héber Carlos de. O Pluralismo do Pós-Modernismo. http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermeneutica_heber.htm, acessado em 12.11.2007.
Notas
[i] Expressões latinas que significam "para dentro e "para fora". São empregadas para indicar as ações das pessoas da Trindade, seja nas relações internas entre as três pessoas, seja na obra da criação e redenção.
[ii] Igreja Reformada sempre Reformando.
[iii] Por fora e para além das fronteiras.
[iv] Ecumenismo Evangélico segundo o Rev. Dr. Augustus Nicodemus,”é a tentativa de aproximação entre igrejas evangélicas, a nível de cooperação em atividades evangelísticas e sócio-políticas, e mesmo de fusão organizacional. Por exemplo, a cooperação interdenominacional de igrejas e ministros--muitos dos quais não estariam interessados no ecumenismo cristão ou religioso – que se unem para patrocinar uma cruzada de Billy Graham. Vale lembrar que o número de denominações diferentes chegou a 22.000 em 1985 e continua crescendo a uma taxa de cinco novas todas as semanas”. (Ecumenismo – www.ipb.org.br).
* Texto escrito especialmente para a Revista Proposta. Revista editada pela Cultura Cristã, publicada trimestralmente pela Confederação Nacional dos Homens Presbiterianos da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Sobre o Autor
Ashbell Simonton Réduaasredua@yahoo.com.br
www.revsimonton.org
Direito, Educação, Religião, Filosofia, Teologia
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Fonte: www.artigos.com
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