“Ele vos deu vida,
Estando vós mortos nos vossos delitos e pecados,
Nos quais andastes outrora,
Segundo o curso deste mundo,
Segundo o príncipe da potestade do ar,
Do espírito que agora atua nos filhos da desobediência;
Entre os quais também todos nós andamos outrora,
Segundo as inclinações da nossa carne,
Fazendo a vontade da carne e dos pensamentos;
E éramos, por natureza, filhos da ira,
Como também os demais.
Mas Deus, sendo rico em misericórdia,
Por causa do grande amor com que nos amou,
E estando nós mortos em nossos delitos,
Nos deu vida juntamente com Cristo,
— pela graça sois salvos,
E, juntamente com ele, nos ressuscitou,
E nos fez assentar nos lugares celestiais
Em Cristo Jesus;
Para mostrar, nos séculos vindouros,
A suprema riqueza da sua graça,
Em bondade para conosco, em Cristo Jesus.” – Efésios 2:1-7
A segunda metade da passagem acima, de Efésios 2, é tão brilhante e cheia de esperança na mesma medida em que a primeira parte é escura e plena de desespero. A diferença surge em duas palavras: "Mas Deus", que introduzem a grande obra de Deus em Cristo para nos salvar de nossa morte e condenação e nos dar, ao invés disso, vida e glória.
Jesus faz toda a diferença. É difícil imaginar qualquer cristão discordar dessa afirmação. "Conheça Jesus, conheça a paz. Sem Jesus, Sem paz”. Nossa teologia de adesivos de pára-choques nos ensina isto, pelo menos. No entanto, nós realmente acreditamos, porventura, que Jesus e Jesus por si só seja suficiente para nos salvar plena e integralmente dos nossos pecados, ou ainda nos agarramos o desejo muito natural do ser humano de contribuir de alguma forma para a nossa própria salvação? Para começarmos a examinar os nossos corações e responder a esta questão honestamente, vamos dar uma olhada no que exatamente a Bíblia diz sobre o que Jesus realizou por nós na Sua vida, morte e ressurreição:
1. Perdão. Este parece ser um ponto de partida natural, já que quase todos os cristãos sabem de uma coisa com certeza: "Jesus morreu pelos meus pecados”. Na Última Ceia, Jesus disse, "Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós". Entanto, não devemos negligenciar a profunda dádiva vertida por Jesus no derramamento do Seu sangue para o nosso perdão. O pecado é a essência do nosso problema. É por causa do pecado que estamos condenados diante de Deus, e é o perdão desse pecado que é a essência da nossa redenção: "No qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados" (Ef. 1:7).
2. Redenção. O perdão dos pecados é a essência da nossa redenção, embora a redenção seja mais do que perdão. Ser redimido é ser "resgatado" ou "reivindicado por Deus”. É o que acontece com um escravo que é liberto, ou um prisioneiro de guerra que retorna ao seu próprio país. O pecado nos escravizou e Satanás nos capturou em seu reino das trevas, mas Jesus nos redimiu de volta a Deus. "Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados... mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo" (1 Pe 1:18-19). “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados". (Cl 1:13-14).
3. Justiça. Nós não só precisamos ser perdoados de nossos pecados a fim de nos tornarmos aceitáveis a Deus, mas também precisamos de uma justiça real e positiva, um perfeito cumprimento da Lei de Deus. Os aspectos negativos, ou deméritos, devem ser removidos dos nossos registros, e também devemos de ter aspectos positivos perfeitos, ou méritos suficientes. A morte de Cristo realiza o nosso perdão, e Sua vida sem pecado conquistou uma perfeita justiça para nós. 1 Coríntios 1:30 diz que Cristo "se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção". Isto é o que a Bíblia quer dizer quando fala sobre "a justiça da fé", ou "a justiça que vem mediante a fé", ou "justiça através da fé em Cristo”. Essencialmente, a Bíblia nos apresenta duas maneiras de obter justiça: as obras da lei e a fé em Cristo. Pelas obras da lei, busca-se ganhar ou estabelecer nossa própria justiça. Pela fé em Cristo, desistimos de qualquer tentativa de ganhar a nossa própria justiça e descansamos na justiça de Cristo: "Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção". (Rm 3:21-22).
4. Paz com Deus. Aprendemos há pouco que o nosso pecado nos traz inimizade com Deus – ele nos faz inimigos de Deus. A boa notícia é que Cristo nos traz a paz com Deus, tornando-se Ele mesmo a nossa paz. "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo;" (Rm 5:1). Jesus se tornou a nossa paz assumindo a maldição do pacto sobre si mesmo. Nosso pecado nos colocou debaixo de todas as maldições da lei da aliança ou do pacto de Deus, e colocar-nos, portanto, fora do pacto e em um estado de inimizade com Deus. "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido". (Gl 3:13-14).
5. O Dom do Espírito Santo. Esse versículo nos leva de forma apropriada ao nosso próximo ponto, em que a obra de Jesus também garantiu ao povo de Deus a dádiva do Espírito Santo. Ao conquistar uma perfeita justiça para nós (umajustiça substituta) e tendo pago por nossos pecados tomando sobre Si a maldição da lei (um sacrifício substituto), Cristo obteve (para nós) a promessa de Deus, isto é, a presença permanente do Espírito Santo. Esta promessa foi derramada sobre a igreja primitiva no Pentecostes, e é o direito de nascimento espiritual de cada crente, o nosso selo da redenção eterna. "Tendo Nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança". (Ef 1:13-14).
6. Regeneração (Nascendo de Novo). Intimamente relacionado com o dom do Espírito Santo está o dom da regeneração, ou o de "nascer de novo”. Quando Jesus fala em "nascer de novo" na famosa passagem de João 3, Ele se refere a isto como "nascer do Espírito”. Em Tito 3 lemos: "Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador" (Tito 3:4-6). Curiosamente, muitos cristãos falam sobre "nascer de novo através da fé em Jesus" como se a regeneração fosse algo que Deus realizasse em nós como resposta à nossa fé em Cristo. A Bíblia não usa essa linguagem em absoluto. Ela fala sobre ser "justificado pela fé" em Cristo, mas em nenhum lugar se fala sobre "nascer de novo pela fé". Somos "nascidos do Espírito" e "nascidos de novo... pela palavra de Deus", mas não "nascidos de novo através da fé”. Em uma oportunidade futura, quando examinamos o processo de salvação com mais detalhes, vamos ver porque esta é uma distinção importante.
7. Tesouros Eternos / Nossa Eterna Herança (Glorificação). Finalmente, Cristo garantiu para nós uma herança eterna no céu, um tesouro que não desaparecerá e que os ladrões não podem roubar e que as traças não podem destruir. 1 Pedro 1:3-4 fala dela como nossa "herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus", que temos "mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos".
Então, Com que contribuímos?
A maioria dos cristãos provavelmente diria "com nada" quando questionados sobre a salvação. No entanto, quando são pressionados um pouco mais, eles revelam sua crença de que, de fato, contribuem de alguma forma, ou seja, com a fé. Podemos ser tentados a encarar a fé como a única coisa que podemos dar a Deus em troca do que Ele nos dá - a salvação em Cristo. Nada poderia estar mais longe da verdade.
Longe de ser uma dádiva nossa para Deus, a Bíblia diz que, em vez de disto, a fé é uma dádiva de Deus para nós: "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie." (Ef 2:8-9). Algumas pessoas têm contestado o significado exato dessa passagem. Eles questionam se "é dom de Deus" refere-se diretamente à fé ou, de forma mais geral, à nossa salvação. Creio que se refere diretamente à fé, mas mesmo que se referira mais genericamente à nossa salvação, certamente a fé através da qual nós somos salvos está incluída no pacote.
Este não é o único lugar onde a fé é tratada como um dom que Deus nos dá. Os discípulos clamaram a Jesus: "Aumenta-nos a fé!" (Lc 17:5). Paulo diz que "segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um" é que devemos exercer nossos dons espirituais na proporção desta fé (Rm 12:3-8. Em outras palavras, Deus nem mesmo tem dado a todos os cristãos a mesma quantidade de fé.
Assim, a fé é um dom que Deus nos dá e que nos habilita a crer em Cristo e sermos salvos. Não é algo que damos a Deus ou algo que tenhamos em nós ou de nós mesmos. Se pensarmos sobre isso, isso faz sentido à luz do que já foi examinado no âmbito do item “depravação total". Se a Bíblia é precisa em sua descrição da nossa condição pecaminosa, seria impossível que algo tão precioso e belo como a fé salvadora surgisse do nossos próprios corações pecaminosos. A única maneira de podermos crer é se Deus nos der a capacidade para isto.
Então, com que podemos contribuir? Apenas com o nosso pecado. Apenas com a nossa carência. Todas as demais coisas vêm de Jesus pela bondade de Deus.
“Porque Dele, e por meio Dele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eternamente. Amém!” – Romanos 11:36
Jason A. Van Bemmel