Sem Fé é Impossível Agradar a Deus - Dave Harvey

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A boa notícia de Hebreus 11.6 é que, com fé, podemos agradar a Deus. Porém, esse versículo nos leva por uma negativa dupla: “sem fé é impossível” agradá-lo.

Por que o autor coloca dessa forma? Está enfatizando o ponto de que o cântico normal do coração humano não é a canção da fé. Embora ela trabalhe de maneiras diferentes, os cristãos e não cristãos enfrentam uma luta similar. Ambos lutam com a descrença.

A descrença – incredulidade – é coisa séria — o escritor de Hebreus já o rotulou como tóxico quando advertiu contra o “perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (3.12). Portanto, não chegamos a Hebreus 11 encontrando muita simpatia pela incredulidade.

Ali o autor nos diz que sem fé é “impossível agradar” a Deus. Nada de enganoso, nada de difícil. Não: é simplesmente impossível!

Não creio que tenhamos a tendência de nos sentir tão contrários à incredulidade quanto Deus. A incredulidade é uma desconfiança decidida quanto às promessas e o caráter de Deus. Spurgeon descreve a incredulidade como uma “desconfiança nas promessas e fidelidade de Deus”. A incredulidade nega as perfeições e o poder de Deus e lança fora suas misericórdias aos pecadores. A incredulidade é chamar Deus de, se não um descarado mentiroso, pelo menos de artista do engano e truques.

Imagine ter um relacionamento com pessoas a quem sempre você fala a verdade e mantém suas promessas. A sua disposição — não importa qual seja, sem falha – é ser gracioso para com eles. Você sempre é bondoso, misericordioso, ajudador, disposto a atender a todo tempo.

Agora, imagine com você se sentiria se eles duvidassem frequentemente que você existisse ou se retraíssem de você constantemente como se você estivesse prestes a dar-lhes um tapa ou temessem que você tomasse de volta tudo que já lhes deu, só por rancor. Apesar do histórico de seu desempenho, eles continuassem insistindo que simplesmente não podem confiar em você. Imagine a afronta ao seu caráter, o insulto à sua benevolência, e o ataque sobre sua integridade.

A maioria dos cristãos, a começar comigo, raramente se enxergam como tendo essa espécie de incredulidade descarada. Mas, é o que acontece. Muito. Infelizmente, a descrença não se confina aos grandes momentos de doença e diminuição do quadro de funcionários. A incredulidade começa nas pequenas coisas. Recebemos um relatório negativo quanto aos filhos, nossos planos para o dia são interrompidos, o mercado de ações cai inesperadamente, e sem titubear, estamos perguntando se Deus não seria um enganador.

Meus amigos dizem que tenho uma mente brilhante. Queria que com isso eles estivessem dizendo que sou muito inteligente, como aquela personagem do livro e do filme. Mas o que realmente estão falando é que às vezes eu vejo coisas que não estão ali — como aquela personagem doida do livro e do filme. Você já conheceu alguém assim? Você é assim?

Tome, por exemplo, a hora que alguém me diz: “Sabe, realmente precisamos conversar”. Minha mente incrédula salta, perturbada, fabricando cenários cheios de medo. “É, com certeza é notícia ruim, provavelmente alguma espécie de correção. Não, provavelmente ele está liderando uma divisão na igreja, e foi designado para me contar. Não, fizeram um complô contra mim — ele vai me atacar!” Acaba sendo que ele queria me dizer o quanto um de meus sermões ajudara sua vida.

Às vezes, minha mente precisa de uma gaiola. Na verdade, vou revelar-lhe um pequeno segredo. Os místicos cristãos do passado costumavam falar da “escura noite da alma”. Para mim, isso geralmente acontece pela manhã. Na maioria dos dias, quando soa o despertador, meus problemas parecem magicamente agrupados ao redor de minha cama. São meus Condutores da Descrença, dando as boas-vindas ao novo dia.

– Olá Dave, estamos esperando por você. Planejamos todo o seu dia. Vamos começar com um forte exercício de preocupação, seguido de um longo banho de chuveiro de autopiedade. Temos um café da manhã delicioso de problemas impossíveis de se resolver. Depois disso, você vai até seu ensaio dos fracassos passados. A tarde será dedicada ao treinamento em futilidades em sua caixa de entrada. Temos ainda uma grande noite de desapontamentos planejada especialmente para você, se conseguir chegar a tanto. Portanto, levante-se – desperte e se abata!

Ah, eu mencionei que todos estão usando camisetas com os dizeres “Deus não existe, ou se existe, ele não gosta do Dave”? Acho que chegam cedo porque sabem que é quando estou mais propenso a concordar com eles.

Boom—primeira coisa pela manhã, antes mesmo de minha dose de cafeína, tenho uma escolha: fé ou incredulidade.

Se a incredulidade pode estar por perto, sendo tão persistente assim, é fácil ver como ela pode se tornar habitual. De fato, ao ler sua Bíblia, você verá que a descrença muitas vezes não é um evento e sim uma condição. É uma paralisia da alma. Quando tropeçamos na descrença, temos a tendência de permanecer na fossa da dúvida. Não estamos realmente à vontade ali, mas não somos motivados a fazer algo para mudar isso.

A incredulidade afoga a ambição piedosa. Se formos tomados pela descrença, a vida trata da sobrevivência e a fé é uma miragem. Só enxergamos os telhados de sapê pegando fogo. Deus não se encontra ali. A ironia está em que o único antídoto para incredulidade é a fé.

É por essa razão que é tão importante ver a fé como dom de Deus. Se ela viesse de nós mesmos, quando fosse derrotada pela descrença, teríamos perdido a fé para sempre. Mas, como é um presente que vem a mim como beneficio da cruz, podemos acessá-la voltando-nos a Cristo. Acho que todos nós nos identificamos com o homem que exclamou a Jesus: “Creio. Ajuda-me na minha incredulidade!” (Marcos 9.24).

Combatemos incredulidade com a fé porque o alvo da fé é aproximarmo-nos de Deus. Os olhos da fé só podem enfocar o alvo de Deus. Pode haver muitas coisas a nos distrair, mas a fé bíblica tem um foco singular.

Você já subiu por uma escadaria em espiral até o topo de uma velha torre de sino ou campanário de igreja – sabe, o tipo onde você olha para baixo no centro e sente que está num filme de Hitchcock? Se tiver problema com alturas, terá problema com essa escadaria. As pessoas que conhecem essas coisas dizem para você olhar os degraus à frente de você ou atrás de quem estiver subindo antes de você — mas não olhe para o meio. Por quê? Porque não há o que focar. Só uma grande expansão de espaço com ruína certeira embaixo.

O que acontece quando seu foco vai para cima? Você obtém confiança para ir em frente.

Conheço alguém que aprendeu muito sobre fé. Siva cresceu como Bramane Hindu no sul da Índia. Depois que ele mudou-se para os Estados Unidos para seus estudos superiores, o Senhor bondosamente abriu seu coração ao evangelho, e ele teve uma conversão radical. Por meio de uma longa jornada cheia de muitas histórias fascinantes sobre a soberania de Deus, Siva se encaminhou até Filadélfia, casou-se com uma moça cristã piedosa, e começou a seguir carreira em seu campo de especialização, engenharia de corrosão.

Há alguns anos, Siva creu que Deus o conduzia a começar sua própria companhia de engenharia. Isso significou, entre outras cosias, deixar o conforto de um bom emprego. Siva descreve isso como um “salto de fé”. Sempre quis começar seu próprio negócio, mas era uma longa estrada.

Durante seis anos Siva fez todo o possível para tornar sua empresa rentável. Local na internet, gráficos, chamadas frias, trabalhos na rede, assistência a conferências — se havia alguma forma de fazer conexões, lá estava Siva. Mas não deu para virar a esquina. No fi m ficou claro que ele teria de fechar sua empresa e voltar a trabalhar para alguma outra pessoa. Se você já esteve nessa situação, pode entender não só a prova de fé como também a prova de humildade que vem de admitir que simplesmente não consegue fazer a sua própria empresa dar certo.

Mas fechar a firma não acabou com os problemas de Siva. Encontrar novo emprego também ficou difícil. O Senhor lançou Siva numa jornada de fé que requeria que ele se firmasse diariamente contra a incredulidade. Tinha de lutar contra dúvidas quanto a Deus, dúvidas quanto ao futuro, dúvidas quanto a sua capacidade de prover para sua família.

Uma prova severa que surgiu foi a questão se deveria mudar ou não para outra região do país. Siva cria que foi chamado a criar sua família na sua igreja local. Mas depois de meses de busca, simplesmente não havia empregos dentro de sua especialização que permitissem que ele ficasse naquela região. As opções de Siva pareciam reduzidas a uma escolha dolorosa: deixar o campo pelo qual ele foi treinado, ou deixar a igreja que amava? Siva queria fazer o que era certo, mas tudo parecia dar errado. Às vezes, quando orava, sentia que Deus estava distante e inacessível, em vez de pronto a abençoá-lo e guardá-lo.

O que um homem faz quando duvida se ouviu de Deus, se seu futuro é seguro, e se suas ambições o destruíram financeiramente?

Mas Siva tinha fé bíblica — a espécie que encontra em Deus todo seu foco, não em nós mesmos. Decidiu confiar na Palavra de Deus mais do que em seus sentimentos ou fracassos. Embora não fosse pecado mudar a família a fim de poder sustentá-los, suas convicções bíblicas fizeram com que se visse como homem em uma comunidade mais do que homem em uma empresa. Resolveu permanecer na igreja local e aceitar qualquer emprego que conseguisse.

Você não deve ficar surpreso ao descobrir que Deus providenciou um caminho. Não era o melhor emprego, mas era na mesma cidade. Isso o manteria dentro de seu próprio campo de especialização e manteria a família em sua mesma igreja. Siva estava disposto a sacrificar sua própria visão pessoal por amor de coisas que valorizava mais.

Mais tarde voltaremos à história de Siva, mas não perca de vista o ponto principal. Siva tinha uma fé centrada em Deus. Não incorreu dívidas impossíveis tentando manter em pé um sonho moribundo. Não comprometeu os seus valores para resolver seus problemas, nem acusou a Deus quando a sua fé, por um tempo, parecia um salto sem frutos. Firmou-se na verdade e buscou conselho sábio. Quando veio a dúvida, Siva creu que o Deus de sua conversão e o Deus de sua provação eram o mesmo — e podia confiar em ambos.

Você se encontra na armadilha da incredulidade? Deus parece distante, preocupado, inacessível? Você já seguiu o que pensava ser a direção de Deus para descobrir-se em uma estrada de dificuldades? Como Siva, recuse ver a si mesmo como vítima das suas circunstâncias. Isso o libertará para tirar os olhos das circunstâncias e fixá-los em Deus. Então, procure ajuda. Mas não peça que os outros tenham dó; peça-lhes a verdade da Escritura. Peça que relembrem quem é esse Deus e por que ele é digno de sua fé. Isso ajudará a alinhar o seu pensamento à verdade objetiva, não interpretações subjetivas ou pensamentos emotivos. Em seguida, confesse o pecado da descrença e receba misericórdia em tempo oportuno. Isso o ajudará a receber a limpeza do perdão e fé renovada para um novo caminhar.
 
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Comunhão para Evangelização - Ashbell Simonton Rédua

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“Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade." - 1 João 1:6,7

Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” I João 1:6-7

Acabo de ler o texto do Rev. Prof. Dr. Héber de Campos, O Pluralismo do Pós-Modernismo, chego a conclusão do intenso desespero que muitos Homens Presbiterianos vêm sofrendo por conta dos rumos obscuros e inóspitos da religiosidade pós-moderna. Pude abrir meu campo de reflexão e de análise sobre a fé cristã a partir de alguns referenciais, que a leitura deste texto trouxe para mim. Por isso, hoje quero compartilhar com você alguns desafios que nós Homens Presbiterianos precisamos tomar no alvorecer da Comunhão visando a Evangelização do nosso País.

Precisamos entender que o “fazer” evangelização da Igreja sem unidade é escândalo, isto porque no Reino de Deus não existe espaço para o fazer individualista. A Evangelização está sempre evidenciando o aspecto da comunhão, porque não existe espaço para evangelização na igreja de forma individualista. A comunhão tem a ver com o Corpo de Cristo e com a Comunidade do Povo de Deus.

O Apóstolo João associa esta necessidade da vida de comunhão e da unidade visível do povo de Deus na obra evangelizadora. Portanto João está falando de uma unidade organizacional visível na história, através de ações de fraternidade prática, vivenciada no amor e propósitos ideais do Reino de Deus, ineqüivocadamente assumidos como prioritários e portanto dignos de nossa convergência.

É interessante que o Novo Testamento diz que o mundo não vê quase nada, “o homem carnal não entende as coisas de Deus”, porque o “príncipe deste mundo cegou o entendimento dos incrédulos”. Mas com relação a unidade da Igreja o mundo “veria”, isso porque seria uma unidade mais do que metafísica, mais do que espiritual, seria uma unidade analisável, mensurável, sociologicamente compreensível, socialmente perceptível. O mundo perdido, cego pelo diabo, é incapaz de perceber a profundidade espiritual do Reino, todavia deve ser capaz de perceber a unidade do povo de Jesus.

Eu penso que nos precisamos ter alguns desafios se queremos tornar a nossa vida como Homens Presbiterianos ou como igreja, como uma igreja que realmente caminha dentro da vontade para o qual Deus a criou. Se queremos caminhar como uma igreja que viva de acordo com a vontade de Deus, precisamos de ser desafiados constantemente em nossa vida cristã.

A evangelização é uma realidade complexa, que inclui exigências irrenunciáveis. A Evangelização no Novo Testamento é destacada como: serviço (diakonia), proclamação, diálogo, anúncio (kérygma), testemunho (martyria) e da comunhão (koinomia).

O mundo em que vivemos está mergulhando em um caos espiritual, que reflete sua obstinada intenção pela exclusão de Deus. Diante desse quadro, a Igreja deve sempre se posicionar levantando a bandeira do Evangelho de Jesus Cristo. Os desafios confrontam-nos para que tomemos decisões firmes em prol do Reino de Deus (I João 1: 6-7).

Consideremos alguns desafios para o Homem Presbiteriano no alvorecer da Comunhão para Evangelização

Os novos desafios, que colocam novas perguntas, impõem igualmente novas respostas. Encontrar respostas adequadas a nossa prática evangelizadora, não é uma tarefa propícia a seguranças. Vivemos um tempo mais de buscas do que sínteses, mais ingente à criatividade do que ao plágio e à repetição. De nada valem as nostalgias restauradoras de um passado sem retorno. É claro que, em se tratando da herança cristã, na busca de novas respostas, impõe-se salvaguardar a autenticidade primitiva, a experiência dos Reformadores. A coragem de renovação é a única garantia de futuro.

Das novas perguntas, postas por um mundo em profundas transformações, impõem-se, pelo menos, três grandes desafios para o Homem Presbiteriano. São desafios que se apresentam como tarefas, a serem realizadas de maneira processual, gosto muito desta palavra, talvez por causa do Direito.

Apresenta-se a necessidade urgente de – re-projetar a missão evangelizadora da Igreja, de re-fontizar a identidade reformada da Igreja e de re-novar a Comunhão da Igreja.

1. Re-projetar a missão evangelizadora da Igreja

O primeiro desafio consiste em definir os contornos da identidade reformada da Igreja na obra evangelizadora. A identidade da Igreja (ser) e sua configuração histórica (instituição) derivam da missão (fazer).

Evangelizar não consiste simplesmente em incorporar pessoas a uma Igreja já pronta mas, antes de tudo, em encarnar o Evangelho na vida de pessoas contextualizando-as. Mas, não também de um evangelho supostamente fora da contingência da história e das culturas, o que não passaria da transmissão de uma determinada versão dele e levaria a uma Igreja monocultural. Neste caso, os interlocutores não passariam de meros destinatários, reduzidos a receptores passivos de um evangelho em uma determinada interpretação e vistos como objetos da evangelização. Ora, a Evangelização, trata-se, antes, de um processo cujo sujeito não é quem leva a fé, mas quem recebe a mensagem revelada, dado que neste processo, não é tanto o evangelho que se incultura, mas os sujeitos da cultura que incorporam, a seu modo, o Evangelho em sua vida, em suas relações.

Na tarefa de resposta ao desafio de re-projetar a missão evangelizadora da Igreja, impõe-se fazer do ser humano o caminhar da Igreja, poderíamos pensar em evangelismo pessoal, ou mesmo no evangelismo pelo testemunho, talvez não, mas pensar no evangelismo como um estilo próprio de viver, viver como Cristo viveu. Isto implica a superação da visão teocentrista e de seu conseqüente eclesiocentrismo ou de uma ação evangelizadora meramente ad intra[i], na esfera do espiritual, e situar a missão evangelizadora no coração do homem numa visão Cristocentrica.

Desafios tais como pobreza crescente, ética social-política-econômica, direitos humanos, democracia, violência, igualdade racial, emancipação da mulher, ecoteologia, dizem respeito também ao Evangelho.

2. Re-fontizar a Identidade da Igreja

A preocupação pela “identidade” da Igreja, assim como pela identidade das culturas, dos povos, dos indivíduos etc., está na ordem do dia e tem sua razão de ser. Isso se deve, por um lado, às profundas transformações atuais e, por outro, à cultura de dominação reinante, que operou uma destruição dos valores tradicionais.

Na Igreja, a atual crise de identidade, em grande medida, deve-se às novas perguntas oriundas de um mundo em profundas transformações, que ao exigirem novas respostas, impõem uma nova compreensão de si mesma e uma nova configuração da Igreja.

A crise de identidade, em um momento e contexto particulares, instintivamente leva a re-visitar o passado, em busca da experiência dos nossos pais (Reformadores). Caminha-se ao encontro do referencial histórico, que fundamentou o caminhar até então, para resgatá-lo no novo contexto. Mas, há duas maneiras muito diferentes de re-visitar o passado, que desembocam em modos diversos de configuração da identidade: uma, é re-visitá-lo a partir da instintiva atitude de medo e de autodefesa, que leva a reafirmar a identidade “de sempre”, ou seja, de ontem; outra, é re-visitá-lo a partir da urgência do presente, propondo-se a uma re-fundação da identidade, na fidelidade à experiência dos Reformadores, em perspectiva de futuro, creio que este é o pensamento essencial da fé reformada, “ecclésia reformata semper reformanda”[ii].

Ao buscar a base da nossa identidade no passado, fazendo dele um refúgio, é caminho para o princípio da fé reformada na atualidade. A postura reformada está apoiada em uma visão retrospectiva da realidade, na medida em que se pensa que, não foram os tempos que mudaram, mas a identidade atual que fracassou, por ter se desviado da forma primária. A solução, então, é resgatar a identidade de ontem e trazê-la para o hoje .

No contexto da atual crise da modernidade, a postura reformada está presente também na Igreja. A Igreja está voltada para a esfera ad extra,[iii] em estreita ação do ecumenismo denominacional de linha evangélica[iv], e com os movimentos populares, que perdeu a identidade reformada. Também perdeu seu poder, na medida em que foi usada ou deixou-se usar por outros interesses, por uma politização da fé, que esvaziou a escatologia de sua dimensão transcendente. A salvação foi reduzida à libertação de contingências temporais de ministérios extraordinários. A fé, em seu discurso normatizado que é a teologia, em sua forma de “teologia que liberta”, representa a ingerência indevida de outras ciências na teologia, especialmente da sociologia. A formação, nos seminários e escolas de formação teológica, gera um tipo de pastor crítico em relação à comunhão da igreja, incapazes de veicular uma identidade forte da mesma, diante das vicissitudes da sociedade e das seitas.

A re-fontização da identidade, pela busca da experiência dos Reformadores, nos remete portanto ao próprio caminhar da Igreja na história a partir da Reforma Séc XVI, sob o dinamismo do Espírito Santo. O Espírito Santo não é enviado a uma Igreja já constituída antes de sua missão . A missão do Espírito Santo é constitutiva da Igreja. Ela existe porque o Espírito Santo lhe foi enviado e ela se manifesta a partir deste dom. A Igreja não é nem anterior nem exterior à missão do Espírito. Primeiro há uma missão do Espírito a toda a criação, para que esta criação exista; depois, dentro desta missão geral, surge e existe a Igreja (Pentecoste).

3. Re-novar a Comunhão da Igreja

A Igreja, ainda que seja verdade que não é uma mera democracia, é comunhão, também é verdade que a comunhão pressupõe a koinonia. Passados, entretanto, mais de dois mil anos, por razões diversas, a Igreja parece estar longe de constituir-se em uma koinonia. Na verdade, qualquer forma de autoritarismo é essencialmente contrária à mensagem evangélica.

Evidentemente, estamos falando aqui, não da “origem” do poder na Igreja (a Igreja enquanto manifestação do Poder de Deus), mas de sua gestão, que deve seguir os princípios evangélicos, quais sejam, a ausência de toda sorte de autoritarismo e desrespeito à dignidade das pessoas, a serviço de quem devem estar sempre as estruturas. Certas formas de poder na Igreja, às vezes ditas emanadas do espírito do Evangelho, não passam de heranças históricas, fruto da imitação de poderes temporais .


O acolhimento deve se dar primeiro em nossas afeições e corações, quando então, não se fará acepção de pessoas. Paulo disse que tanto Judeus como gentios deveriam ter o mesmo tratamento no seio da igreja primitiva. Outro aspecto da ética cristã no acolhimento é não fazer distinção entre classes sociais.

A comunhão dos santos faz com que cada graça que Deus concede a um determinado membro da Igreja seja patrimônio de todos os fiéis. Se, numa sociedade, alguns de seus membros se tornam religiosos, ou se santificam, isso redundará em bem para todos os membros da sociedade, e deverá alegrar portanto a todos.

A vida cristã é uma vida de relacionamentos. A comunhão íntima com Deus, pela oração e prática da Sua Palavra, nos leva ao relacionamento fraterno com nossos irmãos de fé. Esse relacionamento cresce na medida em que também cresce nossa fé

Conclusão

Não importa a sua teologia correta, os seus dons extraordinários ou sua visão ampla e estratégica; se você é individualista e não tem comunhão com a Igreja, você está fora da vontade de Deus. Sem comunhão você é um tijolo fora da construção, um membro fora do corpo, um soldado perdido no campo de batalha, ou seja, uma incoerência, uma contradição, uma vida sem propósito. Você precisa de se relacionar na Igreja por inúmeras razões

Bibliografia

CAMPOS, Héber Carlos de. O Pluralismo do Pós-Modernismo. http://www.monergismo.com/textos/hermeneuticas/hermeneutica_heber.htm, acessado em 12.11.2007.

Notas

[i] Expressões latinas que significam "para dentro e "para fora". São empregadas para indicar as ações das pessoas da Trindade, seja nas relações internas entre as três pessoas, seja na obra da criação e redenção.

[ii] Igreja Reformada sempre Reformando.

[iii] Por fora e para além das fronteiras.

[iv] Ecumenismo Evangélico segundo o Rev. Dr. Augustus Nicodemus,”é a tentativa de aproximação entre igrejas evangélicas, a nível de cooperação em atividades evangelísticas e sócio-políticas, e mesmo de fusão organizacional. Por exemplo, a cooperação interdenominacional de igrejas e ministros--muitos dos quais não estariam interessados no ecumenismo cristão ou religioso – que se unem para patrocinar uma cruzada de Billy Graham. Vale lembrar que o número de denominações diferentes chegou a 22.000 em 1985 e continua crescendo a uma taxa de cinco novas todas as semanas”. (Ecumenismo – www.ipb.org.br).

* Texto escrito especialmente para a Revista Proposta. Revista editada pela Cultura Cristã, publicada trimestralmente pela Confederação Nacional dos Homens Presbiterianos da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Sobre o Autor
Direito, Educação, Religião, Filosofia, Teologia

O Verdadeiro Legado da Copa

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A Copa Mundial da FIFA repercute intensamente em todo o mundo e movimenta milhões de pessoas. Ela é um acervo de esperanças e desilusões, lágrimas e alegrias. Exige a organização de uma pirâmide fantástica que, partindo de tantas nações, busca um único vencedor. Aficionados ou não a esse esporte, os países são atingidos, com repercussões profundas no ritmo de vida dos cidadãos. O acontecimento bem merece uma reflexão evangélica, que nos ajude, vitoriosos e vencidos, todos os de alguma forma participantes, a refletir sobre lições e aproveitá-las para crescer espiritualmente e mesmo sob o aspecto esportivo.

Os primeiros vestígios dos exercícios físicos como precursores da vasta gama de jogos individuais ou em equipe, com regras precisas, ascendem a cerca de trinta séculos antes da era cristã, no Oriente. Foram sistematizados na Grécia clássica, onde se celebravam as Olimpíadas, de quatro em quatro anos. Novos rebentos surgiram e, sem dúvida, o mais popular e difundido hoje é o futebol, que atinge intensamente a opinião pública mundial.

Na Sagrada Escritura há um trecho atinente ao assunto. A Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios emprega o exemplo dos estádios para estimular os cristãos a serem fieis ao Evangelho. E comenta: “Os atletas se abstêm de tudo; eles, para ganhar uma coroa perecível; nós, para ganhar uma coroa imperecível” (9,24-27). O Apóstolo retoma a comparação em outras oportunidades.

A expansão dessas competições, como a atual Copa do Mundo, caracteriza a sociedade do bem-estar, da abundância, do afluxo de bens materiais que permite a movimentação de massas e enormes despesas. É também o fenômeno típico da modernidade nas proporções que hoje apresenta. Trata-se de uma imensa força, que pode ser utilizada para a propagação do bem.

A visão cristã, mencionada por São Paulo em sua carta aos Coríntios, tem, em nossos dias, uma aplicação que deve ser recordada: tratar a educação para a cultura integral do homem: “Empreguem-se bem os lazeres para o descanso do espírito e para consolidar a saúde da alma e do corpo”. Entre outros meios, isso também é obtido “através de exercícios e apresentações esportivas, que auxiliam a manter o equilíbrio do espírito, também na comunidade, e ao estabelecer relações fraternais entre os homens de todas as condições, nações e raças”.

O campo de futebol e toda a complexa estrutura organizativa que serve de base condicionam e estimulam o exercício das virtudes cristãs.

O bom profissional ou amador, no campo de futebol, não é avaliado apenas pelo número de gols que faz. Com a fantástica máquina publicitária, o herói dos estádios assume, queira ou não, um compromisso ético com a comunidade. Quem se torna exemplo que empolga os homens não pertence unicamente a si mesmo. Deve ter consciência de ser um estímulo, para o comportamento de outrem. Por isso, a educação social e moral, a formação de caráter, em diversos aspectos, são fundamentais em um esporte. Isso também é do seu interesse. O sucesso nas partidas de futebol não depende exclusivamente do vigor físico e técnico, mas também de procedimentos que são fruto de virtudes cristãs. Colocar o bem da equipe sobre a exaltação da vaidade pessoal, o trabalho em conjunto em contraposição ao egoísmo, o controle dos impulsos desleais, da violência e tantas outras atitudes negativas, são essenciais ao êxito no gramado. Muitas vezes, mais que se pensa.

Para alcançar esse padrão elevado, é imprescindível uma visão cristã do esporte. Ele tem uma dimensão de espiritualidade que é o alicerce da disciplina e fator de êxito. O respeito ao adversário respaldado na dignidade da pessoa humana coíbe a praga da brutalidade no campo, que é sinônimo do espírito antiesportivo e descontrole de comportamento.

Independentemente da vitória final, vejo esta Copa do Mundo como um fator valioso para o Brasil. Forças latentes surgem. O amor à Pátria, tão importante na vida de um povo, recebe, nesta época, extraordinária contribuição. O entusiasmo por causas sadias, a condenação às manifestações antiéticas, são elementos válidos na promoção de uma antropologia cristã. O conceito de “homem” como imagem de Deus, sob os mais variados aspectos, está presente, embora de maneira velada, nas competições da Copa. Há grandes vantagens, evidentemente. E entre elas, a alegria do povo, as esperanças. Em uma visão cristã, todas podem nos levar a Deus.

Que o futebol seja cada vez mais um instrumento de educação nos valores da honestidade, da solidariedade, da fraternidade, especialmente entre as jovens gerações.

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Autor: Eugênio A. Sales

A Devoção Cristã num Tempo de Mudanças

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Vivemos numa época caracterizada por irracionalidade, relativismo, individualismo, consumismo e violência. O surpreendente é que há uma semelhança muito grande entre o nosso tempo e a época em que o cristianismo surgiu. O que se vê é o ressurgimento de uma cultura pagã, muito parecida com a do tempo em que Jesus Cristo e os apóstolos viveram.

A igreja cristã hoje é desprezada pelo mundo, tendo de lutar por sua sobrevivência ao lado de muitos outros movimentos religiosos. Essas mudanças, que estão ocorrendo na sociedade, têm tido poderosa influência sobre nossa doutrina, nossa pregação e nossa forma de ser igreja.

Concluindo o livro, este capítulo é dividido em duas partes. Na primeira, examinaremos brevemente o atual cenário e seu impacto nas formas de pensar e se posicionar da igreja evangélica em nosso país; na segunda parte, examinaremos como os personagens que foram considerados nesta obra podem ajudar-nos a manter a fé evangélica de forma fiel à herança cristã.

“Admirável mundo novo”

É comum percebermos no meio evangélico a influência deste novo paganismo, que leva muitas igrejas e denominações a adotar ordens de culto e liturgias em que o sentimento de reverência cede lugar à descontração, e o bem-estar do fiel se torna mais importante que a sua humilhação e dedicação a Deus. O Senhor Deus é transformado numa espécie de força, disponível sempre que necessário, mas que não incomoda, pois não exige nenhum tipo de mudança de comportamento ou santidade.

Nesse contexto, em que a pregação da Palavra de Deus muitas vezes é desprezada, a música produz um elevado clima emocional, onde é proposta uma teologia que se apoia vagamente no Evangelho, mas que, na verdade, é baseada numa experiência emocional dos crentes, sem um apelo à razão.

A crítica à razão e à instituição, além de promover divisões nas igrejas e uma desconfiança quanto aos ministros cristãos, as tem deixado sem defesa para as novas tendências teológicas. Por isso, os cristãos de hoje não veem dificuldades ou problemas em assumir conceitos e palavras que fazem parte de outros grupos religiosos, inclusive dos que são o oposto ao cristianismo.

Podemos ver essa descaracterização do evangelho naqueles que acreditam em simpatias, em benzedeiras, em copos de água em cima do rádio ou da televisão, imitando o catolicismo popular, resgatando até mesmo superstições da Idade Média, como a comercialização de óleo ungido, da água do rio Jordão, etc. Algumas pessoas viajam quilômetros apenas para orar com alguém que tem supostos dons especiais, ou uma oração mais poderosa. Infelizmente, em algumas igrejas, podemos perceber semelhanças com os cultos de matriz africana, cujo discurso se prende à obsessão por demônios, pela qual passa a igreja evangélica no Brasil. A vida cristã passa a ser movida por eventos supérfluos como os shows gospel e a “Marcha para Jesus”. E, como se não bastasse, a teologia da prosperidade, com seu vocabulário sem significado, tem substituído a simplicidade bíblica, centrada em Cristo Jesus.

O mais trágico é que há igrejas ensinando que, para uma pessoa ser salva, ela precisa cumprir uma elaborada lista de itens, da qual constam: receber o Senhor Jesus como único salvador, participar das “reuniões de libertação” para se ver livre do Diabo, buscar o batismo com o Espírito Santo, andar em santidade, ler a Bíblia todos os dias, evitar más companhias, ser batizado, frequentar as reuniões de membros da igreja, ser fiel nos dízimos e nas ofertas, orar sem cessar e vigiar.

E, mais trágico ainda, mesmo cumprindo toda esta lista, no entender dessas lideranças eclesiásticas, um cristão pode vir a perder a salvação. Entretanto, as Escrituras claramente nos ensinam que homens e mulheres pecadores são declarados justos apenas pela fé, apenas em Cristo; parece que os dirigentes desses movimentos religiosos nunca leram as epístolas de Paulo aos Romanos e aos Gálatas, assim como a epístola aos Hebreus.

Como resultado, o que podemos constatar é que os cristãos muitas vezes são pobres em cultivar amizades profundas e verdadeiras, fazendo com que a comunhão entre os irmãos seja fraca ou inexistente. É por isso que poderíamos sugerir que a igreja tem sido influenciada pelo contexto cultural em que vivemos, preso às emoções e individualidades.

Por outro lado, no começo do século xix, como fruto do Iluminismo, surgiu na Europa um novo movimento teológico, chamado de liberalismo teológico, que tem tido forte impacto sobre os seminários teológicos no Brasil, onde são formados os futuros pastores. O liberalismo teológico se tornou uma espécie de dossel sobre o qual se abrigam teólogos de várias tendências, muitas vezes amorfas, mas que compartilham dos mesmos pressupostos básicos, racionalistas, anti-sobrenaturalistas – por não crerem numa revelação sobrenatural ou em qualquer tipo de milagre e, no fim, ateístas.

Esses teólogos compartilham o desprezo pelos enunciados cristãos mais básicos, as doutrinas da Criação, da inspiração das Escrituras, do nascimento virginal de Cristo, de sua morte salvadora e ressurreição e do seu retorno final, triunfante. Essas doutrinas passaram a ser severamente criticadas ou claramente negadas por eles, numa tentativa de reinterpretar o cristianismo histórico.

Tal movimento chegou ao Brasil, trazido por missionários estrangeiros, em meados de 1960, e as principais denominações históricas brasileiras – presbiterianos, batistas, metodistas e luteranos – acabaram sofrendo forte influência nessa mudança teológica, ocorrida especialmente nos seminários teológicos, mas com reflexos nas igrejas locais.

Mas, como J. Gresham Machen escreveu no começo do século xx, “liberalismo não é cristianismo”. Os liberais, imitando a velha heresia gnóstica, tentaram reinterpretar o cristianismo, justamente para não assumirem em público a diferença entre essas duas cosmovisões antagônicas.

Por consequência, teólogos oriundos desse movimento acabam usando linguagem ambígua, para permanecerem ligados às igrejas e seminários das principais denominações no país.

Augustus Nicodemus Lopes acertadamente afirma:


O liberalismo teológico nasceu, alimentou-se e viveu como um parasita, usando o corpo, as energias, os recursos e a vida das organizações eclesiásticas fundadas e financiadas por conservadores. Os primeiros liberais eram ministros de denominações conservadoras – embora já minadas pelas ideias do Unitarismo e do Iluminismo –, de onde tiraram seu sustento e onde ganharam respeitabilidade. Mesmo que tenham mudado suas crenças, não largaram o corpo de onde se alimentavam. Pois não teriam para onde ir.

E, por isso mesmo, precisamos ser constantemente lembrados: liberalismo não é cristianismo!

Essas várias tendências são extremamente perigosas, porque o cristianismo, que sempre sofreu ameaças de ser seduzido pela cultura de seu tempo – e por vezes sucumbiu a ela –, mais uma vez está diante do mesmo desafio. A partir desse quadro, podemos perceber com clareza que o resultado de tal capitulação será uma espiritualidade superficial e sem significado, num contexto onde a igreja evangélica está correndo risco de deixar de ser igreja evangélica, comunidade estabelecida sobre a mensagem do evangelho da graça livre de Deus.

Precisamos lembrar que as antigas confissões de fé, seguindo os ensinamentos das Escrituras, afirmavam que a pureza de uma igreja se mede pela fidelidade com a qual o Evangelho é pregado – o que inclui as doutrinas centrais do cristianismo – e as ordenanças celebradas – o que aponta para a teologia prática das igrejas –, e não pela quantidade de membros agregados.

Uma direção para a igreja

As personagens consideradas neste livro podem ajudar-nos a retomar o rumo, na medida em que descobrimos através de seus exemplos, o que fazer para manter a igreja fiel ao evangelho. Podemos resumir essa ajuda em três pontos.
Se desejamos ser uma igreja fiel, precisamos redescobrir as doutri nas centrais da fé cristã, e isso não é uma tarefa fácil. Precisamos estudar todas as doutrinas bíblicas, buscando saber quais são aquelas cujo conhecimento é vital para nossa salvação e quais são aquelas em que podemos ter opiniões diferentes.

A partir do estudo dos nossos biografados, e como ponto de partida para uma renovação evangélica, somos convidados, em nome do testemunho cristão, da clareza e da honestidade, a oferecer com coragem nossa confissão de fé neste tempo. As bases de fé da Comunidade Cristã de Universidades e Faculdades Cristãs (UCCF) são um um resumo fiel das crenças vitais da tradição cristã e evangélica:


Deve-se crer:

Na existência de um só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, um em essência e Trino em pessoa.

Na soberania de Deus na Criação, Revelação, Redenção e Juízo Final. Na inspiração divina, veracidade e integridade da Escritura, tal como revelada originalmente, e sua suprema autoridade em matéria de fé e conduta.

Na pecaminosidade universal e culpabilidade de todos os homens, desde a queda de Adão, colocando-os sob a ira e a condenação de Deus. No Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, plenamente Deus; ele nasceu da virgem; foi plenamente homem, mas sem pecado; ele morreu na cruz, e ressuscitou corporalmente dentre os mortos, e agora reina sobre a terra e o céu.

Na redenção da culpa, pena, domínio e corrupção do pecado, somente por meio da morte expiatória do Senhor Jesus Cristo, nosso representante e substituto, o único mediador entre os pecadores e Deus.

Em que aqueles que crêem em Cristo são perdoados de todos os seus pecados e aceitos por Deus somente por causa da justiça de Cristo imputada a eles; esta justificação é um ato da misericórdia imerecida de Deus, recebida apenas pela confiança em Cristo e não por suas próprias obras.

Em que somente o Espírito Santo torna a obra de Cristo eficaz para os pecadores, levando-os a se voltarem de seus pecados para Deus e a confiar em Jesus Cristo.

Em que somente o Espírito Santo habita em todos aqueles que ele regenerou. Ele os torna cada vez mais semelhantes a Cristo em caráter e comportamento e lhes dá poder para o seu testemunho no mundo.

Na única Igreja, Santa e Universal, que é o Corpo de Cristo, à qual todos os cristãos verdadeiros pertencem e que na terra se manifesta nas congregações locais.

Em que somente o Senhor Jesus Cristo voltará pessoalmente, como o juiz de todos, para executar a justa condenação de Deus sobre aqueles que não se arrependeram e receber os remidos na glória eterna.

Um ponto importante que se deve ter em mente é que o que determina uma tradição denominacional ou mesmo a fé da igreja cristã não é a posição de um teólogo em particular, mas as confissões adotadas em concílios ou por segmentos representativos da igreja cristã. Nesse sentido, a fé cristã é definida a partir do Credo dos Apóstolos, do Credo de Niceia e pela Definição de Calcedônia. E a fé evangélica, construída e dependente da primeira, é determinada por documentos como a Confissão de Augs burgo, o Catecismo de Heidelberg, a Confissão Belga, a Confissão de Fé de Westminster e a Declaração Teológica de Barmen.

O cristianismo histórico é confessional desde o seu princípio: “Portanto, todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; mas aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus” (Mt 10.32-33). Nesse sentido, se desejamos uma renovação da igreja que opere uma mudança na sociedade, precisamos confessar vigorosamente as antigas doutrinas cristãs e evangélicas como afirmadas nos antigos credos e confissões de fé.

Então, a partir desse ponto, devemos pregar e ensinar doutrinariamente na igreja e nos seminários teológicos, enfatizando a centralidade e autoridade das Escrituras, a doutrina da Trindade – que nos ensina que Deus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo –, os ofícios e a obra de Cristo – verdadeiro Deus, verdadeiro homem –, o pecado e a culpa, a expiação, a regeneração, a fé e o arrependimento, a justificação, a santificação como obra do Espírito Santo, julgamento, céu e inferno, e, em tudo isso, denunciando o cristianismo hipócrita e nominal.

Nossa atenção precisa voltar-se para o fato de que é a verdadeira doutrina que produz a verdadeira unidade na igreja cristã (Ef 4.1-16).
Agora, uma palavra especial para aqueles que têm servido à igreja na pregação e no ensino. Não basta apenas uma recuperação teológica, pois se nossa teologia não serve para ser pregada, então ela é uma má teologia. Precisamos recuperar uma pregação bíblica, que seja expositiva, doutrinária e prática. Precisamos de pregadores expositivos, que busquem pregar toda a Palavra de Deus, e saibam que somente o Espírito Santo, ligado à Palavra, pode salvar pecadores e edificar a igreja.

A prática da pregação de Martinho Lutero em Wittenberg é uma boa ilustração da centralidade da Palavra de Deus no ministério cristão. Na Igreja do Castelo, no domingo, às 5h, ele pregava nas Epístolas Paulinas; ainda no domingo, às 9h, pregação nos Evangelhos Sinóticos; e no domingo à tarde, pregação baseada nos temas do Catecismo menor; nas segundas e terças, pregação nos temas do Catecismo menor; na quarta, pregação no Evangelho de Mateus; na quinta e na sexta, pregação nas Epístolas Gerais; e, no sábado, pregação no Evangelho de João. Aqui temos um bom modelo de pregação numa congregação, onde estilos literários bíblicos diferentes são bem combinados na pregação, e unidos com aulas catequéticas. Por isso, podia se afirmar de Lutero que ele pregava ensinando e ensinava pregando. Em nosso tempo, D. M. Lloyd-Jones pregou dez anos na epístola aos Romanos, e seis anos na epístola aos Efésios – e sua igreja ficava lotada!

Lutero, Lloyd-Jones e outros que têm seguido esse método de pregação buscam enfatizar “todo o desígnio de Deus” (At 20.27), pregando toda a Escritura para o povo de Deus. Em outras palavras, o ministro cristão será um “pastor ensinador” (cf. Ef 4.11).

No tempo da Reforma, tal modelo de pregação foi um claro ataque contra os métodos de ensino católicos. Estes usavam a dramatização, que era chamada de dramatização dos mistérios, quando atores profissionais eram pagos para, junto ao altar, representar diante do povo, que eles consideravam inculto e incapaz, as verdades das Escrituras, muitas vezes romanceadas. Mas, segundo a Segunda Confissão Helvética,“a pregação da Palavra de Deus é a Palavra de Deus”:


Portanto, quando esta Palavra de Deus é agora anunciada na Igreja por pregadores legitimamente chamados, cremos que a própria Palavra de Deus é anunciada e recebida pelos fiéis; e que nenhuma outra Palavra de Deus pode ser inventada, ou esperada do céu: e que a própria Palavra anunciada é que deve ser levada em conta e não o ministro que a anuncia, pois, mesmo que este seja mau e pecador, contudo a Palavra de Deus permanece boa e verdadeira.

Então, por causa do elevado conceito que as Escrituras tem de si mesmo (1Tm 3.16; 2Pe 1.19-21), por entender que a exposição da Palavra é o meio de salvação (Rm 10.13-17; 1Pe 1.23), e que o homem, por ter a imagem de Deus, é um ser com capacidades racionais, nossos pais espirituais rejeitaram esses acréscimos. O único sacramento que eles aceitaram era a pregação da Palavra de Deus.

Além disso, a pregação bíblica não pode ficar de fora dos cultos, pois é parte integrante da adoração. Portanto, precisamos voltar a ensinar toda a Palavra, não apenas aquilo de que gostamos mais ou que nos é mais familiar, mas toda a Palavra de Deus. Quando o fiel ensino e a pregação da Palavra são negligenciados, sempre surgirão superstições e crendices dentro da própria igreja evangélica.

Os ministros da Palavra devem ser pregadores práticos, lidando com os casos de consciência. Assim sendo, eles devem aplicar a Escritura àqueles que ainda estão em seus pecados, aos que estão lutando com alguma doença ou passando pela“noite escura da alma” e aos que estão crescendo na fé.

Toda essa questão se torna ainda mais urgente quando vemos que, em pesquisa realizada em 2010, cerca de 51% dos pastores e líderes evangélicos brasileiros nunca leram a Escritura por inteira pelo menos uma vez, o que explica o declínio da qualidade dos ministros em nosso país e a grande quantidade de ensinos que estão em ruptura com a fé cristã histórica.
Precisamosser igrejas bíblicas, criativas e relevantes. Ao definirmos “igreja”, pode-se lembrar de que, em termos confessionais, duas marcas caracterizam a verdadeira igreja: a Palavra de Deus pregada e ouvida em toda a sua pureza e a correta administração dos sacramentos do batismo e da ceia do Senhor. Como declara a Confissão de Augsburgo:


Ensina-se também que sempre haverá e permanecerá uma única santa igreja cristã, que é a congregação de todos os crentes, entre os quais o evangelho é pregado puramente e os santos sacramentos são administrados de acordo com o evangelho. Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. E para a verdadeira unidade da igreja cristã não é necessário que em toda a parte se observem cerimônias uniformes instituídas pelos homens. É como diz Paulo em Efésios 4: ‘Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo’.

O Novo Testamento oferece limites para sermos igreja, mas dentro desses há bastante liberdade para adaptações às mudanças que aparecem em diferentes lugares e épocas.

Partindo desse ponto, precisamos reafirmar, de forma criativa, a vida em comunidade. Para isso, devem ser encorajados meios para incluir os vários dons espirituais dos cristãos no ministério de nossas igrejas, lembrando que cada crente é importante e tem um ministério necessário no corpo de Cristo (Rm 12.4-8; 1Co 12.8-11,28-30; Ef 4.11-16; 1Pe 4.8-11).

Ao mesmo tempo, todos os membros deveriam estar conscientes de suas responsabilidades de mútua submissão e autodoação na igreja em que participam (Ef 5.18-21). A igreja existe para nutrir relações de cuidado entre seus membros (1Co 13.1-13). Como bem lembra Horrell, é preciso cultivar amizades profundas, para imitar a igreja do Novo Testamento. “Cultos nos lares, núcleos de estudos bíblicos, retiros e outras formas de comunhão contribuem para reunir em amor o povo de Deus, exaltando a alegria e o amor da Trindade, antecipando a comunhão abençoada do céu”.

O ensino bíblico sobre a aliança precisa ser redescoberto. Em termos bíblicos, um pacto ou aliança é um vínculo de sangue graciosa e soberanamente administrado, na medida em que “sem derramamento de sangue, não há remissão” (Hb 9.22). Portanto, as Escrituras registram a promessa do mediador pactual, o Senhor Jesus Cristo, no Antigo Testamento, e o cumprimento de tal juramento, no Novo Testamento. Essa doutrina funciona como o tema unificador das Escrituras Sagradas.

Em termos práticos, a aliança é o vínculo dos crentes na comunidade da fé. Se, de um lado, pecadores são chamados soberana e graciosamente por Deus para a salvação, estas novas criaturas (2Co 5.17), agora renovadas pelo Espirito Santo, são incluídas numa comunidade que está ligada por um vínculo pactual gracioso e soberano com o próprio Deus, por meio de Jesus Cristo, e entre si mesma. Portanto, é preciso lembrar a esta comunidade da aliança que o Senhor tem prazer em cumprir suas promessas pactuais, assim como exige obediência às exigências pactuais estabelecidas por ele mesmo.

O preço do discipulado e a disciplina precisam ser enfatizados, pois o que tem prevalecido na cultura da malandragem e do jeitinho é aquilo que Dietrich Bonhoeffer chamou de “graça barata”. Portanto, precisamos recuperar o ensino da graça custosa, que exige tudo daqueles que ouvem o chamado evangélico para seguir o Senhor Jesus Cristo:


A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão de pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.

A graça preciosa é o tesouro oculto no campo, por amor do qual o homem sai e vende com alegria tudo quanto tem: a pérola preciosa, para adquirir a qual o comerciante se desfaz de todos os seus bens; o governo régio de Cristo, por amor do qual o homem arranca o olho que o escandaliza; o chamado de Jesus Cristo, ao ouvir do qual o discípulo larga as suas redes e o segue.

A graça preciosa é o evangelho que há de se procurar sempre de novo, o dom pelo qual se tem que orar, a porta à qual se tem que bater. Essa graça é preciosa porque chama ao discipulado, e é graça por chamar ao discipulado de Jesus Cristo; é preciosa por custar a vida ao homem, e é graça por, assim, lhe dar a vida; é preciosa ao condenar o pecado, e é graça por justificar o pecador. Essa graça é sobretudo preciosa por tê-lo sido para Deus, por ter custado a Deus a vida de seu Filho – ‘fostes comprados por preço’ – e porque não pode ser barato para nós aquilo que para Deus custou caro. A graça é graça sobretudo por Deus não ter achado que seu Filho fosse preço demasiado caro a pagar pela nossa vida, antes o deu por nós. A graça preciosa é a encarnação de Deus.

A graça preciosa é a graça considerada santuário de Deus, que tem que ser preservado do mundo, não lançado aos cães; e é graça como palavra viva, a Palavra de Deus que ele próprio pronuncia de acordo com o seu beneplácito. Chega até nós como gracioso chamado ao discipulado de Jesus; vem como palavra de perdão ao espírito angustiado e ao coração esmagado. A graça é preciosa por obrigar o indivíduo a sujeitar-se ao jugo do discipulado de Jesus Cristo. As palavras de Jesus: ‘O meu jugo é suave e o meu fardo é leve’ são expressões da graça.

Durante quase dois mil anos, os Salmos foram centrais para a devoção da igreja cristã, ensinando os fiéis a orar, em resposta ao Deus que se revela, uma confissão e glorificação ao Deus trino, criador, redentor e restaurador. Na igreja primitiva e durante a reforma protestante, quando um pastor queria ensinar sua congregação sobre a oração, pregava nos Salmos. Portanto, as igrejas e comunidades cristãs devem redescobrir o saltério como o livro de oração dos crentes, a escola onde se aprende a orar, sempre de novo. E esta oração pode e deve ser aprendida por meio da leitura orante dos salmos em comunidade.

As Escrituras, dessa forma, não são apenas a perfeita revelação de Deus, mas guia do cristão em suas lutas e vitórias – não apenas atos históricos passados e distantes, mas eventos vivos, aqui e agora.

Precisamos também recuperar o rico conceito bíblico de sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2.5,9; Ap 1.6; 5.10; 20.6). Segundo Lutero, todo cristão é sacerdote de alguém, e somos todos sacerdotes uns dos outros. Esse sacerdócio deriva diretamente de Cristo, pois “somos sacerdotes como ele é sacerdote”. É uma responsabilidade tanto quanto um privilégio: “O fato de que somos todos sacerdotes significa que cada um de nós, cristãos, pode ir perante Deus e interceder pelo outro. Se eu notar que você não tem fé ou tem uma fé fraca, posso pedir a Deus que lhe dê uma fé sólida”. Portanto, não podemos ser cristãos sozinhos, precisamos da “comunhão dos santos”: uma comunidade de intercessores, um sacerdócio de amigos que se ajudam, uma família em que as cargas são compartilhadas e suportadas mutuamente. Nem todos podem ser pastores, mestres ou conselheiros. Há um só estado – todos os cristãos são sacerdotes –, mas uma variedade de funções – cada cristão tem um chamado específico da parte de Deus, para glorificá-lo no mundo.

Em todas essas coisas, somos ensinados que Deus Pai, em Jesus Cristo, por meio do Espírito Santo, nos chama como indivíduos para vivermos em comunidade.

Num tempo de mudanças tão profundas e desafiadoras, temos diante de nós uma grande tarefa: a de, na dependência do Espírito, orar, pregar e ensinar, de tal forma que vejamos em nosso tempo uma igreja pura, ortodoxa, santa e relevante para a sociedade. O Livro de orações comum expôs toda nossa responsabilidade e toda a nossa esperança na tarefa de proclamarmos com força renovada a fé evangélica:


Todo poderoso e eterno Deus, que pelo Espírito Santo presidiste o concílio dos abençoados apóstolos, e tem prometido, por teu Filho Jesus Cristo, estar com tua Igreja até o fim do mundo; (...) Livra-nos do erro, da ignorância, do orgulho e da parcialidade; e confiados em tua grande misericórdia, te imploramos, dirige, santifique e governe em nosso trabalho, pelo grande poder do Espírito Santo, a fim de que o confortante evangelho de Cristo seja verdadeiramente pregado, verdadeiramente recebido e verdadeiramente seguido em todos os lugares, para a derrota do reino do pecado de Satanás e da morte; até que ao fim todas as tuas ovelhas dispersas, sejam reunidas em um só rebanho, e se tornem participantes da vida eterna; pelos méritos e morte de Jesus Cristo, nosso salvador. Amém.

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Fonte: Ministério Fiel

Use a Palavra na Criação de Filhos

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Rev. Thabiti Anyabwile* 

 
Deus estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos; e que não fossem, como seus pais, geração obstinada e rebelde, geração de coração inconstante, e cujo espírito não foi fiel a Deus (Salmos 78.5-8).

O Senhor Deus do céu proveu graciosamente sua Palavra (seu "testemunho" e "lei") como uma estratégia e conteúdo fundamental para a criação de filhos (v. 5). Ele "ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos". Vemos o mesmo propósito em Deuteronômio 6.

Por que Deus manda seu povo ensinar sua Palavra, em vez de alguma outra metodologia ou assunto, para instruir a descendência piedosa que ele promete (Ml 2.15)? Por que não vídeo games? Por que não escolas públicas ou particulares? Por que não a aplicação das últimas descobertas da psicologia, sociologia, teoria educacional ou auto-ajuda? Por que os pais não devem simplesmente delegar isso aos mais bem preparados, mais bem educados, mais bem vestidos e mais requintados?

Parece que Deus designa sua Palavra e, especificamente, a paternidade realizada sob a direção de sua Palavra para cumprirem vários objetivos:

1) Para que gerações de famílias – e não apenas indivíduos – conheçam seu testemunho e sua lei (v. 6). Deus tem uma visão de que nossas famílias conheçam e andem em sua Palavras, de geração em geração. Deus planejou a família como a única instituição que deve levar avante esse propósito que inclui múltiplas gerações. O único conjunto consistente de relacionamentos que alcança as gerações são os relacionamentos de avós-pais-filhos-netos. Timóteo é nosso exemplo: "Pela recordação que guardo de tua fé sem fingimento, a mesma que, primeiramente, habitou em tua avó Lóide e em tua mãe Eunice, e estou certo de que também, em ti... Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2 Timóteo 1.5; 3.14-15).

2) Para que nossos filhos ponham sua confiança em Deus (v. 7a). Como pais cristãos, "temos posto a nossa esperança no Deus vivo, Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis" (1 Tm 4.10). Não temos "maior alegria do que esta, a de ouvir que" nossos "filhos andam na verdade" (3 Jo 4). É a Palavra de Deus que pode tornar nossos filhos sábios para a salvação, por meio da fé em Jesus Cristo. As Escrituras dão testemunho de Cristo e nelas está a vida eterna. Se o alvo de nossa criação de filhos se conforma com o alvo de Deus para a nossa criação de filhos, então devemos usar a Palavra de Deus resoluta e fielmente para incentivar nossos filhos a colocarem sua esperança em Deus. As escolas ensinam nossos filhos a terem esperança na educação. Música e entretenimento ensinam nossos filhos a terem esperança na popularidade e serem "legais". Os gurus de auto-ajuda ensinam nossos filhos a terem esperança em si mesmos. Mas nós proclamamos: alguns confiam em carros, outros, em cavalos, nós, porém, confiamos em o nome do Senhor, nosso Deus! Isso é a chave da paternidade bíblica e da esperança de cada pai e mãe crente. Portanto, devemos ensinar aos nossos filhos a Palavra de Deus em e como nossa paternidade.

3) Para que nossos filhos não esqueçam as obras de Deus (v. 7b). Em Salmos 78.9-10, logo depois da grande afirmação do desejo de Deus nos versículos 5 a 8, a Palavra de Deus nos diz que os efraimitas "não guardaram a aliança de Deus, não quiseram andar na sua lei; esqueceram-se das suas obras e das maravilhas que lhes mostrara". Esquecer a Deus é a coisa mais perigosa na desobediência. Que obras grandiosas Deus havia realizado na criação e libertação! É uma coisa surpreendente que essa Realidade fosse esquecida! Mas nós esquecemos. Nossos filhos esquecem. Retemos coisas triviais (brincadeiras favoritas, listas de compras, etc.), enquanto temos pensamentos vagos sobre Deus. Nosso esquecimento é nossa reversão pecaminosa à bestialidade. Mas nossa lembrança é nosso esforço ativo em direção à piedade. Lembrar é uma obra capacitada e impulsionada pela graça de Deus, por meio de sua Palavra. Se nossos filhos devem lembrar-se de Deus, o que ele ordena e deseja, eles precisam manter os registros da obra e da pessoa de Deus gravados em sua mente. Portanto, devemos exercer a paternidade pelo ensino das Escrituras Sagradas aos nossos filhos, para que eles não esqueçam.

4) Para que nossos filhos guardem os mandamentos de Deus (v. 7c). A Bíblia mantém uma forte conexão entre o lembrar e o obedecer (ver, por exemplo, Dt 8.11-20). Não podemos obedecer o que esquecemos habitualmente. Há uma afirmação óbvia na psicologia organizacional que diz: "O que é medido é feito". Medir auxilia a lembrança, que, por sua vez, impele a realização. Os evangélicos ficam nervosos sempre que a obediência entra na discussão espiritual. Mas não devemos. Tão naturalmente quanto esperamos que nossos filhos nos obedecem, devemos esperar que obedeçam a Deus e exortá-los a isso – não por causa de justiça, mas por causa de amor. Três vezes o Senhor disse aos seus discípulos: "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14.15, 21, 23). A obediência é o fruto excelente de um raiz de amor. Havendo ensinado nossos filhos a colocarem sua confiança no Senhor, por meio da fé em Cristo, não ousamos torná-los pequenos antinomianos, negando o lugar do mandamento, da lei e da obediência em seguir o Salvador. Queremos que eles sejam santificados na verdade – a Palavra de Deus é a verdade. Queremos que eles sejam conformados, pela graça de Deus, mediante a fé, à semelhança do Salvador. Precisamente porque o Senhor Jesus Cristo é a nossa santidade (Hb 10.14), queremos que nossos filhos sigam a santidade por meio da fé e da obediência motivadas por graça.

5) Para que nossos filhos não sejam obstinados e rebeldes, e sim firmes e fiéis (v. 8). Oh! que vejamos nossos filhos andando na verdade, e nunca se desviem para a esquerda ou para a direita, nunca tenham um coração frio, nunca sejam tentados pelas canções sedutoras do mundo ou caiam no laço do Diabo! Oramos assim. Mas devemos, também, ensinar a Palavra de Deus com esta esperança e visão de firmeza e fidelidade. A exortação de Hebreus 3.12-14 se aplica muito bem à criação de filhos: "Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; pelo contrário, exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos". Substitua a palavra "irmãos" por "pais" ou substitua "mutuamente" por "filhos", e assim temos ordens para encorajar nossos filhos diariamente na Palavra de Deus.

Que o Senhor nos torne fiéis no ensino de sua Palavra aos filhos que ele confiou ao nosso cuidado. A Palavra de Deus não volta vazia. Creiamos nela e a usemos no criar os nossos filhos!
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* Thabiti Anyabwile é pastor da First Baptist Church, em Grand Cayman, nas Ilhas Cayman.
 
   Fonte: Ministério Fiel

As Crianças de Hoje em Dia - R. C. SPROUL

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Há uma coisa curiosa sobre a decadência moral — ela pode acontecer bem lentamente. O fato não é que você irá tornar-se rapidamente imoral, se você não tiver freios morais, mas sim que você irá tornar-se imoral um dia. A decadência moral que acontece lentamente é tão prejudicial quanto aquela que acontece de forma rápida.

Considere a música que os nossos filhos ouvem. Estou quase certo de que meus avós ficaram bastante preocupados com os seus filhos quando dançaram o que hoje consideramos a música “positivamente limpa” de Elvis. Entre as gerações, vieram os Beatles, que tocavam vestidos em ternos e cujos cabelos estilo moptop eram mais de malandros que de rebeldes. No momento em que eu liguei o rádio, meus pais se opuseram às letras sugestivas do Aerosmith ou Red Hot Chili Peppers. Atualmente, não há mais nenhuma música sugestiva, porque “sugestivo” implica uma medida de sutileza.

Chegamos aqui não porque dormimos durante a travessia do Rubicão 1. Ao contrário, insistimos que, porque os nossos avós se opuseram desnecessariamente (em comparação aos nossos pais), nossos pais devem ter se oposto desnecessariamente (contra nós) e, portanto, precisaríamos recusar a nos opor desnecessariamente aos nossos filhos, sabendo que os filhos deles serão muito piores. Chegamos ao ponto de esperar e aceitar a rebeldia— através da música e a rebeldia moral— como parte normal do crescimento. Alguns pais começam até a se preocupar quando seus filhos não se rebelam.

Tudo isso é prova de que, mesmo na igreja, nós aceitamos mais sugestões da cultura do mundo do que da Palavra de Deus. Tire um momento e busque em sua concordância bíblica a palavra adolescente. Tente a palavra adolescência. Pesquise por lacuna entre gerações. Veja se você consegue encontrar cultura jovem. Nem as palavras, nem os conceitos estão ali. Elas não são categorias bíblicas. Esses elementos destrutivos comuns em nossos lares devem nos sugerir que estamos fazendo algo de errado.

No entanto, reprimir não é o suficiente. Ou seja, não foi mera permissividade que nos colocou nesta confusão. O problema é mais profundo. Não é que não estamos lidando da forma correta com os jovens, mas é que ainda admitimos a existência da juventude. A Bíblia reconhece com alegria a realidade das crianças. Afirma a existência dos adultos. O que ela não faz é aceitar algo entre eles.

A Bíblia, em nenhum lugar, afirma a existência de uma cultura jovem, porque, em toda ela, somos encorajados a abraçar uma cultura diferente – aquela do Reino de Deus. Quando Paulo nos exorta a criar nossos filhos na instrução e admoestação do Senhor (Efésios 6:1), a raiz da palavra grega instrução, traduzida em nossas Bíblias, é paideia. Ela comunica a noção de cultura. Isso inclui convicções compartilhadas, linguagem compartilhada e hábitos do coração compartilhados.

Quando os meus filhos mais velhos ainda eram pequenos, minha esposa e eu trabalhamos para nos certificar de que a identidade deles estava em Cristo, em nossa identidade compartilhada como família que, como a de Josué antes de nós, serviria ao Senhor. Eu incuti isso em meus filhos, em parte, através de algumas liturgias familiares básicas. Enquanto Hollywood e Madison Avenue buscavam que minha filha visse a si mesma em conformidade com o seu grupo social, eu queria que ela visse a si mesma à luz de seu Salvador. Então, ensinei a ela, quando eu perguntava o seu nome, essa pergunta - resposta: Eu—“Darby, quem são os Sprouls?”. Darby—“Os Sprouls são livres”. Eu—“E a quem os Sprouls servem?”. Darby—“Os Sprouls servem ao Rei Jesus”. Eu—“A quem os Sprouls temem?”. Darby—“Os Sprouls não temem homem nenhum; os Sprouls temem a Deus”.

Darby não é mais uma menininha, e um dia provavelmente não será mais uma Sproul. Mas, de fato, a minha filha é uma flecha na minha aljava. Porque a sua identidade está em Cristo e não em seu grupinho social, ela gasta menos tempo andando no shopping e mais tempo proclamando Jesus do lado de fora da clínica de aborto da nossa cidade. Porque a sua identidade está em Cristo, ela vê seu pai não como um velho rabugento, mas como o homem que a ama plenamente. Ela está ligada ao princípio de buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, porque essa é a nossa vocação.

Talvez o que há de mais lindo em minha filha é que ela não só serve, mas também ama o seu pai, seu irmão, suas irmãzinhas e seus dois irmãos menores, que têm sete e três anos de idade. Ela interage com alegria com jovens e idosos, porque ela ama todos os santos e não apenas aqueles que compartilham seu senso para moda ou gosto musical.

Nathan Hatch uma vez expôs a infiltração de ideais americanos peculiares na igreja em seu grande livro “The Democratization of American Christianity” [A Democratização do Cristianismo Americano]. Em nossos dias, estamos testemunhando a divisão demográfica do cristianismo americano. Na melhor das hipóteses, estabelecemos programas com base na idade, sexo e situação de vida. Na pior das hipóteses, temos uma igreja sob medida para fãs de música country e Mountain Dew em um lugar, e uma igreja sob medida para os fãs de jazz e Starbucks em outro lugar. Estamos dividindo o que Cristo uniu, somos os Coríntios, só que nós dividimos a igreja pelo gosto e não pela renda.

Jesus, no entanto, faz de muitos um. Nós somos uma família, um pão, um só corpo, uma cultura, um amor. Será que a cultura do mundo seria capaz de dizer sobre a nossa cultura: “Oh, como eles se amam”?
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N do E: Atravessar o Rubicão significa tomar uma decisão arriscada, de maneira irrevogável. Esse termo é uma referência ao evento ocorrido na história romana, em 49 a.C., quando o imperador Julio César levou seus soldados a atravessarem o Rio Rubicão, situado ao norte da Itália, em perseguição a Pompeu, violando, assim, a lei da época que proibia essa travessia por qualquer autoridade romana acompanhada de sua tropa, já que isso poderia representar riscos ao poder central do império romano.
 

VISÃO, LUGAR E PRESENÇA DE DEUS - R. C. SPROUL

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Há grande debate e controvérsia em nossos dias sobre qual é a adoração correta diante de Deus. Como eu tenho lutado com essa questão, continuo voltando ao Antigo Testamento. Eu sei que essa é uma prática perigosa, porque agora vivemos na era do Novo Testamento, mas o Antigo Testamento nos dá instruções detalhadas e específicas sobre a adoração, enquanto o Novo Testamento é quase que silencioso a respeito desta conduta. No Antigo Testamento, eu encontro um refúgio da especulação, da opinião do homem e dos caprichos do gosto e da preferência humana, porque lá eu encontro o próprio Deus exigindo explicitamente que certas coisas aconteçam na adoração. Eu acredito que é possível e correto extrair princípios para a adoração do Antigo Testamento, pois os livros do Antigo Testamento continuam fazendo parte do cânon das Escrituras e, mesmo que haja certa descontinuidade entre o Antigo e o Novo Testamento, há também uma continuidade que não devemos desconsiderar.

Um dos princípios que aprendi do Antigo Testamento é esse: a pessoa deve ser envolvida por inteiro na experiência da adoração. Certamente, as mentes, os corações e as almas dos adoradores devem estar envolvidos, mas quando vamos ao culto no domingo pela manhã, não chegamos com as mentes, os corações ou as almas desencarnados. Nenhuma das nossas experiências é puramente intelectual, emocional ou espiritual. A experiência da vida humana também envolve aspectos físicos. Isso significa que todos os cinco sentidos estão envolvidos na experiência da vida. Somos criaturas que vivem a vida não apenas com as nossas mentes, corações e almas, mas com os nossos sentidos de visão, audição, olfato, paladar e tato.

Eu não tenho espaço suficiente neste breve artigo para abordar como os cinco sentidos estão envolvidos na adoração, ou mesmo para explorar todas as dimensões de apenas um desses sentidos. Então, quero considerar apenas uma forma pela qual o sentido visual pode ser impactado, para que os nossos corações sejam movidos a adorar.

Pesquisas rotineiramente nos dizem que as duas razões principais pelas quais as pessoas ficam longe da igreja são porque elas acham o culto chato e a igreja irrelevante. Essas razões, especialmente a primeira, me deixam surpreso. Eu sempre disse que, se o próprio Deus anunciasse que ele apareceria na minha igreja num domingo de manhã, às 11 horas, pessoas compareceriam a ponto de algumas ficarem em pé somente nessa hora marcada do culto. Tenho certeza de que ninguém que viesse a esse culto e testemunhasse a chegada de Deus iria embora depois, dizendo: “Eu fiquei entediado”. Quando lemos os relatos bíblicos de encontros de pessoas com Deus, podemos ver todas as gamas de emoções humanas. Algumas pessoas choram, algumas clamam de medo, algumas tremem, algumas desmaiam. No entanto, nunca lemos sobre alguém que tenha ficado entediado na presença de Deus.

Então, visto que a adoração é, em seu sentido mais básico, um encontro com Deus, como podemos explicar as pesquisas que nos dizem que as pessoas saem entediadas da igreja? Devo concluir que elas não estão experimentando a presença de Deus em nenhum sentido. Isso é trágico, porque se as pessoas não sentem a presença de Deus, elas não podem ser movidas a adorar e a glorificar a Deus.

Um dos elementos que ajudam as pessoas a sentir a presença real de Deus é a forma do ambiente de culto. Eu gostava de perguntar aos meus alunos do seminário, que eram protestantes, se eles já haviam estado em uma das grandes catedrais góticas católicas romanas. Muitos haviam estado, por isso eu lhes pedia para compartilhar suas profundas reações ao andarem por uma catedral. A maioria dizia: “Tive uma sensação de temor” ou “Eu senti a transcendência de Deus”. Isso me dava a oportunidade de mostrar como a arquitetura das catedrais, o formato do ambiente de culto nessas construções, colocava meus alunos no “clima” para a adoração, por assim dizer. É claro, as catedrais foram projetadas para despertar essa exata reação. Grande cuidado e reflexão foram empenhados no projeto das catedrais. Os projetistas queriam um formato que estimulasse nas pessoas uma sensação da sublimidade de Deus, da alteridade de Deus. Eu me entristeço ao ver que os protestantes não costumam ter o mesmo cuidado no projeto das igrejas. Nossos ambientes de culto são muitas vezes práticos. Os templos são projetados de acordo com o design de cinemas ou estúdios de televisão. Tais ambientes não têm nada de errado, mas muitas pessoas testemunhariam que esses ambientes não as inspiram à adorarem da mesma forma que o interior das igrejas tradicionais fazem.

Cabe a nós, penso eu, observar o grande cuidado com o qual Deus deu ao seu povo os planos para o tabernáculo, o primeiro ambiente de adoração. Como o templo que veio em seguida, o tabernáculo era um lugar de beleza, glória e transcendência. Era como nenhum outro lugar na vida do povo de Deus. Precisamos entender que a arquitetura da nossa igreja comunica algo aos nossos sentidos visuais e, portanto, essa arquitetura pode favorecer ou dificultar a nossa percepção da presença de Deus.

JESUS CRISTO, O NOSSO SUMO PONTÍFICE

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Na última segunda-feira chegou ao Brasil o carismático Papa Francisco. Chamado por muitos de “O Papa do Povo”. 

Para a Igreja Católica Apostólica Romana, o Papa, seja ele quem for, muito mais do que um líder religioso, ele é o líder espiritual; o Sumo Pontífice da Igreja e o Vigário de Cristo.

Com absoluto respeito aos amigos católicos, gostaria de fazer algumas considerações acerca desses dois títulos papais à luz da Bíblia, e sobre as suas implicações na espiritualidade cristã.

Antes, é importante conhecermos o significado das expressões Sumo Pontífice e Vigário de Cristo:

1. Sumo Pontífice da Igreja

A palavra Pontífice vem do latim pontifex. Literalmente significa “aquele que constrói pontes”.

Na Antiguidade romana, um membro do principal colégio de sacerdotes, o Colégio de Pontífices, era chamado assim. Originalmente, o termo “Pontífice” referia-se a qualquer sacerdote. A partir do século V d.C., o título foi usado para descrê-ver bispos notáveis. Contudo, no século XI, o termo passou a ser utilizado apenas para o Papa da Igreja, considerando-o como o sumo (supremo) construtor de pontes entre os homens e Deus.

2. Vigário de Cristo.

Um vigário é um servo que representa um superior, administrando a posição detida no lugar do verdadeiro soberano; sinônimos incluem “representante” ou “enviado”. O primeiro registro de um título que reflete o papa como “Vigário” é datado de 445 d.C.

Inicialmente o papa era considerado apenas vigário de Pedro; e Pedro vigário de Cristo. Em 1439, no Concílio de Florença, num documento intitulado “Decreto para os Gregos”, o papa foi designado como o verdadeiro Vigário de Cristo – Pastor Aeternus. (Wikipédia, 21/07/13)

Acontece que, à luz da Bíblia Sagrada, esses dois títulos mostram-se inapropriados, para não dizer blasfemos, quando atribuídos a qualquer pessoa, senão a Jesus Cristo. E existem motivos para isso, biblicamente falando:

Porque não existe um só ser humano que não seja falível. Em Romanos 3.23 a Bíblia diz “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. Se todos pecaram, não há porque se falar na infalibilidade de um ou de alguns – com exceção do homem Jesus Cristo que em todas as coisas foi tentado, assim como nós, mas sem pecado (cf. Hebreus 4:15). Ora, se nem mesmo Pedro foi infalível, o que dizer daqueles que o sucederam?

A Palavra de Deus nos diz que só existe um Deus e um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem (Timóteo 2.5). Na primeira carta de Pedro (5:4), o apóstolo glorifica a Jesus (e não a si mesmo!) ao declarar que quando o Supremo Pastor, Jesus Cristo, se manifestar, dele receberemos a imarcescível coroa da glória.

Por fim, em Mateus 28.18, o próprio Jesus declara que toda autoridade lhe foi dada nos céus e na terra. E, em João 14.6, ele assevera: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”

Nesta semana, provavelmente ouviremos muito a expressão Sumo Pontífice relacionada ao carismático Papa Francisco. Porém, lembremos do que a Bíblia nos diz: SÓ EXISTE UM SUMO PONTÍFICE, UMA SÓ PONTE ENTRE DEUS E OS HOMENS, E O SEU NOME É JESUS CRISTO!

Porque só há um Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, JESUS CRISTO, homem (1 Timóteo 2:5).

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Autor: Pr. Irailton Melo de Souza
                irailton@yahoo.com.br