A ADORAÇÃO COMUNITÁRIA SEGUNDO CALVINO

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O pensamento de João Calvino repousa sob a tese de que todo o verdadeiro conhecimento ou sabedoria está no conhecimento que o homem deve ter de Deus e de si mesmo; sendo que este último é dependente do primeiro. Esta ideia está presente em todo o pensamento calvinista. E na adoração pública não é diferente. Conseqüentemente, o seu pensamento básico quanto a adoração comunitária, bem como todos os seus pensamentos, é que esse deve levar ao conhecimento de Deus.

A aplicação deste fundamento na prática é o princípio da adoração de Calvino. O culto é lugar de conhecimento de Deus; então, o andamento do mesmo, deve gerar este conhecimento. Para isso, seus princípios são extraídos da Escritura. Este fato é comprovado pela seguinte declaração:

Ainda que cite muitos textos do Novo Testamento, da Lei, e dos Profetas, no quais se faz expressa e evidente menção a Cristo, sem dificuldade todos eles não pretendem outra coisa senão provar que Deus, o Criador do mundo, nos é manifesto na Escritura, e que o que devemos saber dele, para que não andemos dando voltas perdidos buscando outro deus desconhecido.
Dessa declaração subtende-se que o culto, e qualquer outra prática cristã, só pode transmitir conhecimento de Deus se for apoiado nas Escrituras, caso contrário, seria devagar sem alcançar o conhecimento devido. Portanto, é natural a centralidade das Escrituras no culto – como será estudado adiante – e também na elaboração dos princípios de culto.
Em sua exposição de Romanos, sobre o capítulo 12, verso 1, Calvino traz outro princípio regulador da adoração comunitária, dizendo:
E se Deus só é corretamente adorado pelo prisma de seus mandamentos, então de nada nos valerão todas as demais formas de culto que porventura engendramos, as quais ele com toda razão abomina, visto que põe a obediência acima de qualquer sacrifício. O ser humano deleita-se com suas próprias invenções e (como diz o apóstolo alhures) com suas vãs exibições de sabedoria; mas aprendemos o que o juiz celestial declara em oposição a tudo isso, quando nos fala por boca do apóstolo. Ao denominar o culto que Deus ordena de racional, ele repudia tudo quanto contrarie as normas de sua Palavra, como sendo mero esforço insensato, insípido e inconsequente.
Deus não quer que os homens lhe ofereçam qualquer coisa. Tão pouco quer que os homens decidam o que lhe dar. Esse reformador entendia que o próprio Deus é quem dita o que deve lhe ser entregue em culto, tanto no aspecto da vida inteira do cristão ser um culto, como na adoração comunitária, visto que o texto de romanos 12 abrange ambos os aspectos. Além disto, fica claro o fato de que Calvino via as normas que Deus requer descritas na Bíblia. Em outro lugar ele escreveu, sendo mais incisivo:

…aqui somos informados de que são falsas e espúrias todas as formas de culto que os homens permitem a si mesmos inventar, movidos por sua ingenuidade, mas que são contrárias ao mandamento de Deus. Quando Deus estabelece que tudo deve ser feito em consonância com sua norma, não nos é permitido fazer qualquer coisa diferente. Estas duas cláusulas significam a mesma coisa: olha que façais tudo segundo o modelo; e: Vê que não faças nada além do modelo. E assim, ao enfatizar a norma que estabelecera, Deus nos proíbe afastar-nos dela, mesmo que seja um mínimo. Por essa razão, todas as formas de culto produzidas pelos homens caem por terra, bem como aquelas coisas a que chamam sacramentos, e, contudo, não têm origem em Deus.
O que fica muito claro nestes princípios é que Calvino tinha uma ideia teocêntrica de culto. Em todos os aspectos, o culto parte de Deus, e é voltado para Deus. Mesmo na instrução da igreja vê-se um aspecto teocêntrico, pois a importância da pregação da Palavra está no fato de que é Deus quem fala, e que o povo de Deus aprende sua vontade e a como servi-lo. Ele viu que não são as pompas e ritos do homem que agradam a Deus, mas a obediência ao que ele coloca como forma de adoração.

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Fonte: Portal IPB